Imitando Madonna... (crônica)

Publicado por: Ariadne Cavalcante
Data: 26/10/2013
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Créditos

Texto: Imitando Madonna... Autora: Marina Alves (recantista) Voz: Ariadne Cavalcante
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IMITANDO MADONNA
 
Madonna? Madonna! Glace Mary aceita. Cabeça ruim, mas aceita. Desde quando sabe imitar a famosíssima cantora americana? Nem de longe. Mas ela é assim. De vez em quando tem esses surtos de loucura que nem ela mesma sabe explicar. E quando a Lenir lhe pediu o favor, sem pensar, já foi gritando: “Claro! Eu topo, uai!”
 
Corre-corre pra arrumar peruca, roupa brilhante, bota de cano longo e cruzes pra compor o figurino da imortal musa pop. E quem diz que ela não ficou bem? Pois ficou! O que os truques de uma boa maquiagem não fazem? E pra dizer a verdade, de corpo até que não passa muito longe da bela, não! Daí a ideia da Lenir...
 
Glace não pôde deixar a Lenir na mão. A moça é professora de Inglês numa escola pública e vive à caça de atrativos para seus “anjinhos” adolescentes que não querem nem saber por onde passou o idioma de Shakespeare. E como a moçada se liga na Madonna... Quem sabe trazendo a deusa loura pra mais pertinho, o interesse pelo Inglês  não aflore? E sendo Glace Mary, fera na Língua das terras de Tio Sam, então...
 
Glace tem bom coração. Nunca soube negar nada a ninguém. Muito menos à Lenir a quem deve alguns pequenos favores dos tempos da Faculdade. Não é ingrata pra esquecer as vezes que a amiga lhe salvou de boas. Em  noites de esticar com o Ivan, das Ciências Contábeis, era ela que lhe valia em casa: bastava um telefonema da corretíssima Lenir e os velhinhos do Alto dos Pinheiros dormiam tranquilos.
 
É hora de virar Madonna, sim! Tudo por Lenir. Durante dias ensaia o repertório. Pela pesquisa de campo não tem erro. A moçada irá ao delírio e boletins vão chover 10 no Inglês. Pais e mães felizes: vai ser muito “I love you” apaziguando rebeldes em crise. Tanto que é bem capaz de uma onda universal de amor pelo Inglês invadir o Colégio Mário Vieira, e o Português (que já não é grande coisa) ir pra escanteio. Tudo pela nobre causa! Madonna!
 
Nervosa! Do camarim improvisado, Glace ouve o alarido que vem da quadra externa. Mal comparando, é o mesmo barulho de um temporal se avizinhando lá pelo Morro do Padre. Olha-se no espelho. Uau!  Está di-vi-na! Figurino sem defeito, maquiagem de profissional! Ah, que barato os brincões penduricando nas orelhas! Faz trejeitos e biquinhos. Vai arrasar!
 
Lá fora, pelo microfone anunciam: "Vem aí, Ma-donnn-na!". Ao impacto da Banda “Bicho Engrenado”, a quadra é o Maracanã! Quem se atreve a dizer que não? Gritos e assobios reverberam pelo recinto. Glace repassa mentalmente “La Isla Bonita” e respira fundo. Incorpora a loura que estremece o Planeta e rompendo as cortinas esvoaçantes que separam camarim e palco, adentra gloriosa!
 
A quadra lotada aplaude enlouquecida. “Canta pra você! Faz de conta que não vê ninguém!”: um colega perito em enfrentar grandes públicos tinha lhe recomendado. A cover da Rainha Pop realmente não vê ninguém! Não pela técnica, mas porque não dá tempo. Em meio ao palco, falta o ar, o mundo acelera e roda loucamente. Garganta seca, voz sumida, a Madonna do Mário Vieira oscila e perigosamente tomba, num ruidoso e profundo desmaio!