Numa dessas conversas de noite de insônia, eu – que andei por décadas me dizendo incrédulo – inquiri a sabedoria divina. Provoquei-a como nunca provocara. Destilei mágoas e desafiei sua autoridade.
“Não existes. Falam de ti apenas aqueles que te inventaram. Eu, que não te criei, tenho certeza de que não existes. Não te criei, logo não existes!”
E se passou a noite. Quando o sol já tingia o horizonte, eu ainda não dormira.
“Não te criei, logo não existes!”
Mas como falo contigo se sei que não existes? Se falo com quem não existe, então sou eu o insensato, o que perdeu a razão...
De repente, percebi que há lógica em tudo: somente um insano pode duvidar da existência daquele que tem a capacidade de criar obras tão complexas, como a aurora, o dia intenso, o crepúsculo, a noite e todos os demais fenômenos, assim como o poder de controlar a aparentemente incontrolável mente humana.
Tomado por um cansaço maior que todas as forças, adormeci, pressentindo que – por tua infinita graça e misericórdia – também eu só existo porque, entre tantas obras importantes, percebeste que uma ainda te faltava... e então me criaste.
São Paulo, 19 de julho de 2013 – 14h58