RESPONDENDO À CRÔNICA DE AMOR DO ROBERTO FREIRE
PARA VANESSA
Qual o perfil de um príncipe encantado?
Moreno, alto de olhos verdes? Rico, simpático, elegante. Esse ser só existe mesmo em nossos sonhos. As pessoas reais não cabem em nossos sonhos. Será por que? Pelo espaço exagerado que damos a seres que fantasiamos, seres que não são humanos? Quem ama, ama os humanos, e os que amam são imperfeitos porque são demasiado humanos.
A gente ama pelo o que há de mais banal, não sabemos de onde vem aquela vontade de estar simplesmente com a pessoa que se ama. E apenas isso faz todas as outras coisas valerem a pena.
Amar é coisa metafísica, está além do que olhamos, amor é mistério, é estar constantemente em choque, consigo e com o outro, amar é esse estado de ser vivo.
Ele escreve poemas, cartas e até um livro, nunca deu flores nem presentes caros, mas qual o valor das coisas? O que vale o natal, o ano novo, dias dos namorados... o que vale essas coisas quando você não ama?
Ele detesta telefone, é anti-social e se veste mal, até é bom par para se apresentar para as amigas, mas não sabe dançar nem forró, que é o básico, oh Deus!
No entanto tem suas qualidades, mas não as reconhece, com você ele era tão distraído, se sentia tão perfeito.
Mas ele não tem a menor vocação para príncipe encantado.
Ele toca violão mal? Escreve poemas, gosta de filosofia e se diz escritor? Por que você ama este cara?
Você é linda de natureza, seu cabelo brinca com o vento, você nasceu para brilhar, seus olhos dizem isso, seu corpo tem todas as curvas no lugar, e ele, que tantas vezes já percorreu esse corpo, sabe os caminhos e o quanto ele é lindo.
Sei que você é independente e tem uma personalidade incontrolável, depois de já ter passado por dezenas de empregos sem nunca ter parado em um, agora parece que arrumou um fixo, vai ganhar bem, e com certeza só crescerá na profissão que escolheu. Vai ter um bom saldo bancário, onde vai poder viajar, comprar todas as coisas que sempre sonhou.
Mas ninguém consegue ser do jeito que o outro quer. Eu me pergunto todas as noites, quando a brisa fria de outono trás seu cheiro, da General Olimpio Mourão Filho até a minha janela, e me faz pensar: Deus, porque a gente não deu certo, tinha tudo para dar certo, tínhamos o silêncio, o sorriso, o filme alugado no final de semana, as coisas simples da vida, aprendemos coisas fantásticas juntos, e se somos assim, carregamos pedaços um do outro, não entendo porque a gente não dá certo!
Acho que para amar tem que ter humildade. Ou para amar tem que, primeiramente, amar esse amor, que é simples e bonito e tão real que dá para tocar; tem perfume, boca, cabelo que dá para pintar, tem forma esculpida pelos nossos olhos, olhos de um arquiteto que vê com amor.
Amor é só para escrever, ninguém suporta um amor de verdade, amor é terremoto, é estar sufocado à todo momento, é duas pessoas se transformando em uma. Isso é dolorido. E não sabemos o que vai dar. Então é melhor desistir.
Não existe amor independente, amor é junção. O verdadeiro amor queima e arde como fogo eternamente se desejando. Do contrário é amor budista. Amor budista já nasce póstumo.
Eles tentaram, quebraram a cabeça, mas são pequenos demais para entender as armadilhas da vida, inexperientes também nessa batalha.
Acho que eles poderiam ser grandes amigos se não tivessem se amado além dos limites.
Mas ele sempre vai amar você mesmo sabendo que vocês nunca iriam dar certo.
CAIO CAMPOS
(Adoro esse poeta, ele tem uma sensibilidade que fascina quando escreve... por isso resolvi postar a poesia e o áudio... Beijos)