Outro dia fui convidado para um evento que iria dar-se numa determinada casa noturna. Até aí, nada demais! O que me surpreendeu foi o comentário – em tom jocoso – de que eu deveria ir porque, afinal, sendo eu um baladeiro, o que iria rolar seria pra lá de interessante. Todavia, recusei o convite. Não pelo evento em si – e, aqui, não cabem maiores detalhes sobre ele – mas pelo inusitado apelo que anunciou tratar-se de uma balada. Ora! Com efeito, não é segredo para ninguém que gosto, sim, da vida noturna. Porém, nada tem a ver comigo a qualificação de baladeiro. Na verdade, sou boêmio, que é algo muito diferente. Balada é pegação; boemia é sedução. Balada é entorpecer os sentidos; boemia é estimular as emoções. Balada é exibição e destaque; boemia é confraternização e descoberta. Balada é zoeira; boemia é picardia. Poderia me alongar nessas comparações quase que indefinidamente, mas acho que já me fiz entender quanto a meus pontos de vista. E que me desculpem os pudicos, os abstêmios, os carolas e os noveleiros. Aceito que tenham seus respectivos modos de ser, mas espero que respeitem minhas próprias escolhas. A boemia, afinal, não é para quem quer, nem para quem pode, mas para quem não consegue resistir a ela. É um chamamento às almas que se arriscam a ser momentaneamente livres nos intervalos entre a responsabilidade e a pasmaceira do dia-a-dia. Na boemia se cultua a noite e só quem seja um notívago de carteirinha reconhece o prazer que isso dá. Na boemia se vive, em poucas horas, todas as fases do amor – desde o flerte, passando pela conquista e o arrependimento, até o descarte. Na boemia não se come pela gula, mas pela excitação do paladar. Na boemia não se bebe pelo vício, mas sim, porque poções etílicas afastam as diferenças entre as pessoas e aproximam os dramas entre os espíritos. Na boemia floresce a música, a dança e a poesia e, lá no fundo, só um artista muito versátil consegue, de fato, ser um boêmio competente. É bem verdade que todo boêmio, mais cedo ou mais tarde, é tachado de ser, de alguma forma, um mau caráter – mesmo que de leve. Entretanto, confesso minhas fissuras na alma, mas não renego minha natureza. Sou boêmio e gosto disso!