Uma noite, uma mulher, um hotel bonito no meio do mato. Pessoas se agitando para o jantar. Crianças alvoroçadas, pois a maioria nunca viu tanto verde. As luzes acesas realçando as telas de Zumblick. Os madeirões compondo a estrutura do telhado. A imensa varanda com seus janelões intermináveis... E dentro do peito a inexorável pergunta: Por quê?! Por que de novo ela estava ali? Embora não tão bela, sabia-se uma mulher atraente. De boa conversa, ia de Dostoievski à bobagem do juiz no último jogo do Internacional. Escolhera a profissão certa e a exercia com amor. Enfim, olhava para si mesma e gostava do que via. Por vezes, ria de si própria, como quem diz: isso só acontece comigo!!
E pensava no quanto aquele hotel já vira de sua vida. Quantas vezes a viu cansada, quantas vezes a viu apaixonada, aos beijos junto à lareira, quantas vezes a viu chorando amores desfeitos. E pensou, por um momento em seus amores desfeitos . Aquele era seu refúgio, aquele era o seu lugar. As águas quentes, que brotavam do fundo escondido da terra, caíam sobre seu corpo como mãos fortes do homem amado. O ar puro que sentia desde criança era o mesmo que invadia seus pulmões de mulher feita. Não havia nada ali que não lhe causasse um absoluto prazer.
Mas todas as perguntas pareciam lhe agredir a calma, naquela noite especialmente diferente. Sem que nada de diferente houvesse. Onde estariam todos os homens que amou, que afinal nem foram tantos? Olhava pra cima, para aquelas madeiras e tentava achar alguma pista... Onde estavam todos os planos? Alguns realizados e que por isso perderam a graça, já que o melhor de um plano é fazê-lo? E os outros, cadê aqueles planos jogados numa gaveta qualquer dentro da mente, dentro dos dias?? Pensou no pai e nas coisas que não lhe disse e pior, nas que não ouviu, só escutou. Pensou nos amigos, pensou nos quilômetros até chegar em casa, pensou que acumularia cultura e não dinheiro!
Até parar de pensar. Até descer para aquele restaurante bonito, com suas varandas e janelões intermináveis, suas maravilhosas telas de Zumblick, sua vista para a noite verde e estrelada. Misturou-se ao burburinho das crianças e sentiu-se, naquela noite, absolutamente FELIZ!
Fotos: Hotel Termas da Guarda - Tubarão - 160 km sul de Floripa Passei e passo momentos mágicos ali - desde criança Pra quem gosta de magia - esse é o lugar... Mais uma coisa lindaaaaa da Bela Santaaaa... O auto retrato é de Willy Zumblick, gênio catarinense da Pintura, Escultura, Gravura, etc. morto no ano passado. Como era amigo de meu avô, tive a honra de bater longos papos com seu Willy! Gêniooo!
