_ Professora!
_Que é, menino?
_Posso?
_Pode o quê, Inácio?
_Posso levantar?
_Você já não está de pé, menino?
_Não. Se eu posso levantar o pano que está cobrindo o bolo do recreio.
_Não foi você que trouxe o bolo, Inácio? Não é melhor você acabar a lição para sairmos todos juntos para o intervalo?
_É que eu não sei terminar a lição sem levantar o pano e ver o bolo, professora.
_????
_ ...
_ ...
_Professora!
_Vá lá, Inácio. ... Inácio, volte aqui.
_A senhora não falou pra mim ir lá, professora?
_Pra mim, não, pra eu ir lá.
_A senhora também vai, professora?
_Vai onde, Inácio?
_Ver o bolo, ué!
_E pra quê é que eu ia ver o bolo agora, Inácio?
_A senhora foi que falou, não foi?
_Inácio, acabe a sua lição, que eu estou perdendo a paciência!
_Mas não era pra mim ver o bolo antes, professora?
_Vá, Inácio. E o que é isso na mão agora, Inácio? Desembrulhe isso já!
_Uma faquinha, professora. É que conta de subdividir eu não sei, não, senhora...
_Subtrair, Inácio!
-É, subtrair, isso eu não sei não, senhora. Daí eu ia ver o bolo. Porque eu vi que o Marquinho já subdividiu o bolo e comeu um pedaço lá atrás sozinho. Eu ia ver quantas partes sobraram para ver se eu acerto a continha.
_O Marquinhos dividiu o bolo, Inácio.
_Professora, posso deixar a minha conta pra depois do recreio, porque o meu pensamento não consegue ficar no lápis e escorrega toda hora no bolo... 'alá', professora, todo mundo está subtraindo o seu pedaço e não vai sobrar pra eu.
_ Pra mim, Inácio!
_ Não, o da senhora eles não são nem besta de comer, professora.