Olimpíadas do crime

       Olimpíadas do crime
 

          Enfim, passado o Carnaval, o Brasil começa novamente mais um ano.  Quantos povos no mundo podem se dar ao luxo de retardar, por dois ou três meses, a aceleração máxima de seus motores e engrenagens?  A rigor, nenhum poderia – ou, deveria – mas, por incrível que pareça, nosso país tem esse “traço cultural” que é um desvario injustificável. Mormente numa terra onde, ainda, há muito por se fazer.

          Este ano, em particular, guarda a peculiaridade de ser eleitoral, com nova corrida presidencial, cuja largada oficial aguardava, justamente, o fim do efêmero reinado de Momo.


          A despeito da corrupção não ser exclusividade da política tupiniquim, por aqui ela é assimilada não só como um pecado impossível de se extinguir – como todo pecado o é – mas quase como um mal necessário e sem solução que o iniba ou minimize, porque a impunidade é um salvo-conduto para que ricos e poderosos pequem sem culpa.


          Se podemos contabilizar pequenos avanços desde que o país redemocratizou-se em meados da penúltima década do século vinte,  estamos longe, mas muito longe de alcançarmos níveis mais civilizados no controle da bandidagem que se instala em cadeiras oficiais. Os brasileiros, em média e na maioria, ainda não são politizados; o políticos, em média e na maioria, ainda não são bem intencionados; e, as instituições e órgãos oficiais, em média e na maioria, ainda posam de certos mas vivem no errado.


          Hoje, no cenário político, além dos clássicos e seculares oligarcas inescrupulosos, que cederam, há tempos, bastante espaço para os estelionatários de colarinho branco, também agrega os ex-criminosos comuns, ladrões e sequestradores que, um dia, delinquiram numa criminalidade armada que se travestia de luta política contra a ditadura que, em si, não deixou saudades porque abrigou de tiranos a torturadores que se travestiam de salvadores da pátria.


          Portanto, em ano de disputas eleitorais, já sabemos que haverá as corridas em raias de lama com saltos meramente ornamentais que camuflarão os obstáculos da nação, formando os pódios surrealistas que colocam no topo a antítese do que se espera de heróis.


          Declaram-se abertas as olimpíadas do crime! E parece que elas continuarão a se suceder, de quatro em quatro anos, até que o povo, algum dia, saia das arquibancadas de onde apenas torce para que tudo dê certo. Quem sabe as gerações futuras possam invadir as arenas e definitivamente impor um jogo limpo de verdadeira cidadania e civilidade.      

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