Sobre lagartixas e anonimato virtual

 
Sobre lagartixas e anonimato virtual



As lagartixas pertencem a qual classe do reino animal?” A pergunta me pegou de surpresa e eu, até por instinto, fui disparando: “é um réptil!”. Disse isso porque, se lagartixa é um pequeno jacaré e sendo ele um réptil, deveria ser essa a resposta. Eu acertei, mas, pelo sim, pelo não, fui dar uma busca no Google. O Google me remeteu à Wikipédia e esta, enfim, confirmou minhas suspeitas.

Daí, fiquei cá a cogitar se existe alguma coisa que não haja no Google. Descobri que o senso comum afirma que o que não está no Google simplesmente não existe. Ora, é evidente que lagartixas existem e eu soube disso muito antes de que se cogitasse que o Google pudesse existir.

A questão que ficou é que, na verdade, a maioria das pessoas tende a não existir, se levado em conta tal critério. Que eu saiba é uma minoria que surge no Google. E, cá entre nós, não é possível afirmar que uma menção no Google faça, de fato, com que alguém possa ser considerado existente.

Não posso me queixar porque meu nominho retorna alguns milhares de registros no Google. Mas, e daí? Se fizerem uma pesquisa nos órgãos de proteção ao crédito, meu nome também surgirá e isso significa que para o mundo do consumo eu não existo como opção. Tenho CPF, RG e Título de Eleitor e isso me atribui numerações específicas. Nesse mundo burocrático eu existo como subproduto dos números com que me batizaram.

Sei lá, isso pode me levar à loucura. Vou procurar um espelho para ver minha própria imagem e ter certeza de que estou aqui e, depois, me beliscar para me assegurar que não é uma aparição. Já nem eu mesmo estou acreditando que existo.

Meu Deus! Será que irei virar uma lagartixa? Kafka falou sobre o homem que virou barata. Ele era um visionário e, com certeza, não precisava de Google para isso. Bons tempos!

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