Absoluta falta do que fazer

 

Absoluta falta do que fazer



Diz o ditado que cabeça vazia é oficina do diabo. Por outro lado, não há técnica de relaxamento ou preparo para meditação que não se inicie com a indispensável providência de esvaziar a mente de todo e qualquer pensamento. O que, em princípio, pode parecer uma contradição, muito certamente talvez o seja, enfim.

Confesso que tenho sérias dificuldades em refrear este quase insano hábito de pensar. Desde que me conheço por gente e pus a cachola para funcionar, a danada resiste bravamente quando tento fazer com que se aquiete. O ruim disso tudo é que, quando não elejo nada de proveitoso sobre o que refletir, realmente parece que diabretes ficam estimulando um debate de idéias sem o menor proveito.

Agora há pouco, ouvia eu a Aquarela do Brasil e inevitavelmente detive-me no célebre e desastrado verso de Ary Barroso que menciona um tal coqueiro que dá coco, como se algum pudesse dar bananas ou mortadelas. Daí, contrapôs-se a idéia de que um coqueiro que não dá coco é só uma palmeira. E note-se que não é preciso que se extirpem os cocos de um coqueiro para que ele seja uma palmeira. Todo coqueiro é uma palmeira, apesar de que nem toda palmeira seja um coqueiro. Afinal, qual a diferença entre palmeira e coqueiro? Basicamente nenhuma, porque um coqueiro é uma palmeira que dá coco. É isso!  Enquanto coqueiros vitoriosos dão cocos, outras palmeiras batem palmas. Diferentemente de corintianos e são-paulinos que batem palmas para derrotas do Palmeiras.

Por alguma razão insondável, tão logo esse assunto pareceu-me estar quase esgotado, outro surgiu para tomar seu lugar. Falando em coqueiros sem coco que subsistem somente como palmeiras, ocorreu-me que um touro capado vira boi e não uma vaca. Um touro é macho, uma vaca é fêmea e o um boi é... é.. um eunuco bovino. Se fosse possível fazer implantes de úberes de silicone num boi, talvez ele fosse um traveco bovino. Só que um boi mantém um mínimo de dignidade sob seus chifres, porque não chega a esse ponto de ser veado, que é um bicho de espécie totalmente diferente.

Para falar a verdade, ficar refletindo sobre essas variações de gêneros em botânica ou zoologia não é lá algo com que eu me identifique muito. Melhor, então, ficar concentrado na natureza humana que se, em si, também comporta vários gêneros, jamais deixa de ter algo de degenerada.

Em resumo, fica mais do que óbvio que, se não domino a virtude de cessar o pensamento, muito útil é saber como manter a boca fechada, porque o conceito de ócio criativo é algo muito diferente do que isto que acabo de fazer. Só me resta pedir desculpas por ter arrastado mais alguém para este beco sem saída que é consequência de uma total ausência de idéias e absoluta falta do que fazer.

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