A primavera vem chegando e encasquetei com a idéia de falar sobre ela, porém, sem cair no velho clichê de recorrer às flores. Nada sei de botânica, nunca fui um mestre em jardinagem e, confesso, mal conheço alguns nomes dessas coloridas plantinhas. Meu pai era bom nisso, pois tinha o que se conhece como “dedo verde”, que é como um toque de Midas que faz com que até uma cuspidinha num chão de terra batida faça germinar alguma coisa. De minha parte, lembro que quando fui fazer aquela famosa experiência escolar da aula de ciências, de acompanhar a germinação de um feijão num chumaço de algodão molhado, o meu grãozinho secou de forma catastrófica. Sabe Deus que cor seja meu dedo! Mas, voltando à primavera, cogitei seriamente em falar sobre os equinócios, a translação da terra e seu movimento elíptico em torno do sol que, aliado ao movimento rotatório que o planeta faz sobre seu eixo inclinado, acaba redundando nas estações do ano. Porém, isso cairia melhor num documentário cheio de imagens siderais e efeitos visuais com animação gráfica. Num relato em palavras a coisa é bem chata – é o que me parece, pelo menos. Se alguém tiver interesse, faça uma pesquisa sobre Copérnico que, nesses assuntos, era “o cara”. Insistindo em meu intento, fiquei matutando se não seria interessante falar das civilizações antigas que comemoravam a primavera como sendo o momento adequado para bajular os deuses da renovação, da fertilidade e da abundância – alguns povos ainda comemoram algo assim. Porém, como vivemos numa era de substâncias sintéticas, produtos transgênicos e controle de natalidade, pareceu-me meio anacrônica tal abordagem. Por fim, antes de me dar por vencido, quase fui pelas vias indiretas de fazer um bota-fora para o inverno, dando graças a Deus pelo fim daquele frio danado e incômodo e coisas assim. Algo como festejar o prenúncio do verão, com sol e calor e as belas visões de moçoilas em trajes vaporosos. Entretanto, isso pareceria que desmereço a nobre estação do inverno e, ainda, esgotaria o tema para quando o verão chegasse. Portanto, lamento informar mas não tive sucesso em meus planos. E para que não seja de todo um desperdício de tempo, deixo aqui, como um arremedo de sabedoria que possa auxiliar no aperfeiçoamento moral de todos, a citação de um dito popular: “Nem tudo são flores nesta vida!”