Preconceito? Só contra racistas!
(Crônica da série: “Assuntos que não se discute”)
Irei ocupar algum tempo para falar sobre um assunto indigesto: problemas de raça. Qual raça? A minha raça, a sua raça e a raça “deles”; no caso, a raça humana, ou uma parcela considerável que dela faz parte e que se dedica a um patrulhamento estúpido. Eita povinho complicado, que se desgasta na formulação de eufemismos politicamente corretos e se perde cada vez mais para tentar esconder sua hipocrisia sob um manto de aparente justiça.
Dias atrás, Danilo Gentili, comediante televisivo e humorista de “stand up”, postou em seu Twitter uma piadinha até que infantil. Disse ele: “Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?".
Foi o suficiente para que uma tempestade de protestos surgisse acusando-o por racismo contra negros... ops!, digo, afrodescentendes. Inclusive, o Ministério Público alegou que abriria investigação para analisar a piada que, eventualmente, poderia ser configurada como crime.
Afinal, pergunto eu: quem padece de preconceito nessa história?
Pode-se ler e reler aquela postagem e não se verá nenhuma referência a qualquer tipo de etnia. Ela fala em símio, em migração para zona urbana, em ascensão à celebridade, em preferência por mulheres de cabelos claros e em atleta praticante de futebol. A inferência sobre a existência de qualquer pessoa de pele mais escura está somente na cabeça de quem efetivamente tenha preconceito.
Fica mais do que evidente que foram os defensores do que seja politicamente correto que denunciaram seu próprio preconceito de que um afrodescentente só reúne condições de alçar-se à celebridade mercê de algum talento futebolístico; e, pior, que só assim poderia atrair uma loira. Pior, ainda, foi a ilação de que o macaco da história fosse alguma comparação pejorativa com esse ou aquele tipo de pessoa. De contrapeso, colocaram as loiras abaixo do chinelo ao pressuporem serem elas criaturas venais que se trocam pela mera possibilidade de tangenciar alguma fama.
O disparate mais absurdo é ver o Ministério Público fazendo eco com uma bobagem dessas, investigando piadas como se fossem crimes. Não haverá mais nenhuma roda de amigos nos botecos espalhados pelas esquinas deste país que ficará a salvo dessa horda de criminosos que se dão o direito de rir e fazer rir às custas de chistes sobre situações cotidianas.
Vários tipos de discriminação são qualificados como crime e o racismo, certamente, é o mais evidente, seja ele contra negros, amarelos, púrpuras ou furtacores. Porém, não é ficando de plantão em busca do emprego de terminologias verbais ou referências subliminares que se resolverão os inequívocos problemas que disso decorrem. Crime de racismo é a atitude que desfavoreça, prejudique ou menospreze de maneira inequívoca a alguém em função simplesmente da cor de sua pele ou por sua cultura de origem.
Tem gente que, realmente, não tem mais o que fazer! Há um ranço de revanchismo que estimula esses seres que se dizem politicamente corretos e que, ao invés de se engajarem em movimentos consequentes para a melhoria da qualidade de vida dos discriminados, ficam patrulhando piadas por aí.
A coisa por aí tá preta! Não falo mais porque, de repente, me deu um branco!