Posições para amar
Se você se interessou pelo título pensando que iria encontrar algo que fizesse referência ao Kama Sutra, pode tirar seu cavalinho da chuva, porque não é nada disso!
Já passei o bastante na vida para encarar muitas facetas do amor - não todas, é claro, porque isso é impossível. Acumulei muita informação pela observação do mundo à minha volta e tangenciei alguma sabedoria por experiência própria, tanto no que diz respeito às conquistas quanto aos insucessos. Notei as diferentes posturas assumidas pelas pessoas diante das relações afetivas e, figuradamente, tudo se explica conforme a posição em que se colocam diante de uma relação a dois.
Boa parte dos seres, iludida com o ideal romântico que impera na cultura ocidental, imagina que amar é estar de joelhos, idolatrando ou sendo idolatrado. É aquela ilusão de que o final das histórias acaba inevitavelmente no "felizes para sempre". Contudo, quase sempre, colocar-se de joelhos por amor, acaba levando à evolução natural para a posição de quatro, em decorrência do egoísmo humano. Isso mesmo! Mais cedo ou mais tarde, alguém acaba ficando de quatro por causa de alguém. Horrível isso!
Outros partem da premissa que o amor faz flutuar no ar o que, invariavelmente, coloca a relação afetiva numa esfera fantástica e que pode levar a sérias escoriações emocionais, dependendo da altura de que o tombo se dá. Por outro lado, temendo isso, outros tantos só assumem vínculos qualificados como "pé no chão" o que, também, retira o brilho e a graça do que deveria ser sublime
Pior é aquele amor que se baseia em exclusividade total, como se o vínculo entre duas pessoas as obrigasse a ficar de costas para o resto do mundo. Dois seres engalfinham-se espiritualmente numa relação de recíproca parasitagem, como se isso fosse sinal de fidelidade o que, na verdade, serve apenas para obliterar a individualidade humana. É inaceitável que dois seres fiquem tão amalgamados que devam estar, o tempo todo, voltados de costas para o restante das pessoas.
Afinal, qual é a melhor posição para amar?
Não existem respostas absolutas para nada. Entretanto, penso que a melhor posição para amar seja de pé. Assim, imagino que o amor, saudável e recompensador, preserva cada um dos amantes como seres inteiros e plenos de si mesmos, conjugados pela opção de estarem juntos e não pela obrigação e dependência que decorrem da carência afetiva.
O amor próprio nos põe eretos e confiantes e a relação com o ser amado se presta a que haja aquela famosa "cumplicidade", onde um apóia o outro para que cada um, dentro de seu próprio modo de ser, esteja sempre de pé diante da relação amorosa, diante da vida e diante de si mesmo.
Hoje, eu amo de pé e, por isso, tenho aversão a amores que rastejam, porque cansei de esfolar meus joelhos.