O sábio e o sabido

 
O sábio e o sabido
(Crônica da série: “Assuntos que não se discute”)
 

          Há bem pouco tempo, o recém empossado presidente americano disse para quem quisesse ouvir que Lula “é o cara!”. Quanto a isso, obviamente, pode haver controvérsias. Contudo, parece não haver dúvida de que Lula é “a cara!”.  No caso, a cara do Brasil e do brasileiro.


          Basta caminhar por qualquer parte deste continente tupiniquim que se identificará dentre os circunstantes mais comuns, sejam eles quais pessoas do povo forem, elementos que espelham, de alguma forma, aquilo que o cidadão Luiz Inácio da Silva também representa – ou, já representou, algum dia.


          Não fica difícil, assim, perceber o porquê de tamanha popularidade de nosso presidente, a despeito de tudo quanto vem se passando na história recente, em termos de desmoralização de seu partido e de seus aliados, no que diz respeito não só a inequívocas práticas de corrupção como, ainda, no que tange à evidente incompetência e indisfarçável despreparo no trato e gestão da coisa pública por parte de pessoas medíocres que são pinçadas de seus quadros. 


          Só que isso não é exclusividade dos que agora estão instalados no poder e dele extraindo o quanto possam de benesses em proveito próprio. Infelizmente é uma cruel tradição brasileira – desde os tempos das Capitanias Hereditárias – que os detentores do comando do país tratem descaradamente como legitimamente seu aquilo que, na verdade, deveria ser preservado como sendo da sociedade como um todo.


          Não serei eu a enveredar na crítica fácil de dizer que o “Bolsa Esmola” é que sustenta os altos índices de popularidade de Lula. Sendo assistencialista, ou não, é impossível negar que os avanços sócio-econômicos para as parcelas mais desfavorecidas da nação são uma providência louvável e que esteve à disposição de seus antecessores que nada fizeram, a despeito das oportunidades que sempre tiveram para acudir as classes “C”, “D”, “E”... e sabe-se lá até que letras vão esses estratos de miséria que o Brasil comporta.


          A bem da verdade – creio eu – a predominante massa da população, inculta e alijada de seus direitos de uma boa educação, acaba se identificando de maneira quase simbiótica com nosso primeiro mandatário, que é dado às sandices verbais mais disparatadas que nosso folclore político já acolheu. Afinal, Lula é especialista em maltratar a língua pátria de forma grotesca, além de despejar bobagens sem tamanho sobre os mais variados assuntos, denunciando sua total ignorância quanto a temas que deveriam fazer parte dos conhecimentos gerais de qualquer um que se pretenda minimamente civilizado.


          Atualmente, nosso presidente anda ocupado tentando abafar as crises que ocorrem no Senado. Elas que são fruto da descoberta e divulgação quase que diária de velhos e novos desmandos dos representantes desse nosso arremedo de “câmara alta”. O foco principal está recaindo sobre o presidente daquela casa legislativa, o senador José Sarney, declarado e assumido aliado governista.


          Sarney é raposa velha e já era político experiente e calejado quando Lula iniciava seus passos como mero sindicalista. Ao contrário do chefe do executivo, o presidente do Senado é figura ilustre nos meios culturais, sendo inclusive um dos imortais membros da Academia Brasileira de Letras. Representante das piores oligarquias que o coronelismo poderia gerar, José Sarney, ao contrário de Lula, é letrado e bem formado.


          Entretanto, a enorme distância no preparo educativo e cultural desses dois políticos não foi suficiente para representar um abismo que os separasse.  Os dois se encontram bem próximos no espectro daquilo que a nossa classe política tem em maior abundância que é a absoluta falta de uma identidade ideológica, nenhuma preocupação ética e, pior, fomentam o fisiologismo e o casuísmo como elementos indispensáveis para aquilo que mais anseiam, que é a perpetuação no poder para a locupletação pessoal.


          Entre o sábio e o sabido, infelizmente, não há nada que possa servir de consolo ou esperança para o povo brasileiro. São ambos, da pior forma possível, farinha do mesmo saco.