“A ciência do médico o faz andar de cabeça erguida...”.
(Eclesiástico Cap. 38. v. 1).
A Medicina é extremamente dinâmica e exige uma atualização constante de quem decide exercê-la com credibilidade. Os avanços nas áreas da Genética permitem a prevenção e até mesmo a cura de várias doenças ainda na vida intra-uterina. As pesquisas nas áreas da Farmacologia permitem as criações de medicamentos sintéticos e semi-sintéticos capazes de diminuir a elevada incidência de bactérias mutantes, resistentes à antibioticoterapia convencional, geradas pela auto-medicação e pelas prescrições indiscriminadas de antibióticos, muitas vezes, sem necessidade...
Bastante discutida nos cursos de atualização médica, a infecção hospitalar é um sério problema, capaz de ser resolvido com, entre outras técnicas complicadas, uma simples regra básica de higiene: a lavagem das mãos. Na prática médica, a higiene mental é tão importante quanto a física. No passado, um sábio afirmou: “Mente sadia, corpo sadio!” . Tal afirmação, atualizadíssima, serve, até prova em contrário, para médicos e pacientes na busca do “perfeito equilíbrio físico, mental e social”, conceituado pela Organização Mundial de Saúde. Cabe, portanto, a cada médico adotar e recomendar aos seus pacientes hábitos saudáveis de higienes física e mental, capazes de auxiliar no processo de cura de várias doenças infecto-contagiosas e psicossomáticas. O médico atualizado e equilibrado orienta seus pacientes e aprende com eles, pois tem humildade para reconhecer suas limitações e buscar, com o esforço recomendado pelo juramento profissional, uma constante atualização em seus conhecimentos, procurando “conhecer-se a si mesmo”, antes de conhecer novas técnicas de cura para exercer com segurança e honorabilidade uma Medicina preventiva, curativa, atualizada e eficiente.
Atualizar-se é um direito e um dever de todo profissional. A atualização é uma exigência do Código de Ética Médica, mas não surte o efeito almejado se não for feita pela consciência de cada médico. Atualizar-se não é colecionar certificados de cursos, congressos e palestras, dependurando-os na parede do consultório para impressionar pacientes. Isso, às vezes, não significa atualização e sim vaidade e afetação. Atualizar-se é conciliar a teoria à prática. O médico atualizado pergunta e discute com os seus colegas as condutas mais adequadas para esse ou aquele caso e ao pesquisar sobre um caso clínico alheio a sua especialidade demonstra desejo de aprender e humildade para fazer disso uma realidade viável. Afinal, todo paciente deve ser tratado por inteiro e não apenas pelas partes visíveis e afetadas. Isso requer, além de atualização, sensibilidade por parte do médico assistente.
Parafraseando a frase bíblica “vigiai e orai”, pode-se recomendar a todo médico: “clinicai e estudai”. O problema é que o estudo da arte médica requer investimentos financeiros exorbitantes; uma dificuldade a ser superada com vocação profissional e esforço contínuo dos principais interessados. Caso os representantes das entidades médicas, em parceria com as entidades governamentais, transformassem a demagógica teoria do “processo de educação continuada” numa prática real, todos os médicos estariam “em pé de igualdade”, buscando e obtendo os aprimoramentos exigidos para tratar vidas humanas de forma mais respeitosa e segura. Caso patrocinassem as inscrições dos mal remunerados médicos do serviço público em cursos de atualização, as entidades governamentais estariam promovendo uma ação de suma importância para melhorar o padrão de qualidade da saúde pública. Mas, para governantes sem visão esse é um “gasto supérfluo”. Como as entidades médicas se acomodam diante de tal argumento, os casos ( reais ou forjados ) de imprudência, imperícia e negligência ilustram os matutinos e explodem como bombas nas emissoras de rádio e televisão, extasiando os interessados em denegrir a profissão médica.
Além de ser um dever a atualização profissional também é um direito de cada médico. Logo, que as entidades médicas usem uma parcela da contribuição financeira de cada associado para patrocinar a atualização de médicos mal remunerados, porém interessados em aprimorar seus conhecimentos. Caso essas entidades aleguem “falta de verbas” para promover tal sugestão, que ao menos demonstrem boa vontade para acatá-la. Nem a propósito, atualizar-se é, também, procurar saber os fins dados às verbas repassadas pelos médicos às suas entidades representativas, para que, assim, as condutas recomendadas sejam aumentar ou diminuir as doses dos valores prescritos, após o necessário “chec-up” do caso em questão.
Independentemente da má vontade política de alguns representantes das entidades médicas e governamentais, a atualização médica deve ser buscada com esforço e boa vontade pelos profissionais interessados. Nenhuma atualização técnica, porém, jamais será bem aproveitada pelo médico que ignora os preceitos básicos de cidadania, relações humanas e solidariedade, tríade imprescindível para uma atuação ética, humanitária e objetiva da Medicina, no atual e desequilibrado contexto social...
Artigo publicado na coluna Paulo Marcelo Braga,
no Jornal “Diário do Pará”, em 12/04/1997