A páscoa é bizarra
Fico extremamente invocado com esses eventos que se apropriaram de datas comemorativas – religiosas ou não – para transformá-las em pretextos que fomentam o consumo desenfreado e generalizado.
É um tal de “dia disso” e “dia daquilo” que, no fundo, só serve para que as pessoas se sintam compelidas a gastarem com futilidades e presentes que se distribuem hipocritamente por aí. Raramente existe, de fato, a preocupação em darem-se mimos aos outros. O que interessa é estar inserido no contexto e fazer igual ao que todo mundo faz, se não, socialmente fica chato.
O Natal, sem dúvida, é a data mais esquisita de todas, porque o que deveria ser um dos ápices da cristandade, transformou-se num evento que coroa a hipocrisia humana com requintes de rara estupidez. Vamos todos trocar presentes porque... porque... Sei lá, porque!!! Porque todo mundo faz isso, oras! É absurdo! O interessante é que o Papai Noel, todo encapotado para um frio rigoroso que só acontece em alguns lugares, em tese, sai distribuindo agrados para todo mundo. Como imaginar-se o “bom velhinho” procurando uma chaminé na Favela da Rocinha, ou numa caverna no Afeganistão? Quiçá aquelas criancinhas morrendo de inanição lá na África fiquem preocupadas em encontrar alguma meia para pendurar em janelas que sequer existem por lá.
Com a páscoa não é diferente. A páscoa é um milenar evento religioso dos judeus que foi surrupiado pelos cristãos. O que quer dizer a páscoa para uns e para outros, cá entre nós, aqui não se discute. Respeitemos a crença de cada um.
Contudo, não vejo coisa mais bizarra que eleger coelhos para botarem ovos. Nada menos ovíparo que um coelho. Pior ainda, é que não são ovos de ouro, como os daquela famosa galinha, mas sim de chocolate. Alguém tem noção de quando foi que o chocolate se popularizou no mundo? Certamente, não faz muito tempo. Chocolate foi, por eras e eras, artigo de luxo. Agora, virou bem de consumo e, durante a páscoa, de consumo obrigatório.
E a bizarrice se espalha, inclusive, em função do próprio chocolate pascal. As versões dietéticas são horrorosas porque têm jeito de chocolate, cheiro de chocolate, consistência de chocolate e gosto de pano de chão. E tais arremedos de guloseima somente acodem aos resguardos do açúcar, porque a gordura inerente ao chocolate, em si, não tem como ser alijada dos compulsórios ovos de páscoa.
Cheguei a ver, por aí, quem estivesse dando receitas de ovos de páscoa feitos à base de barrinhas de cereais – nutricional e politicamente corretos, sem dúvida, mas totalmente sem sentido. Nesse caso, então, melhor seria deixar algumas cenouras numa cesta para indicar que os coelhos passaram por ali.
Por essas e outras é que a páscoa, como outras tantas datas, se destaca por ser especialmente bizarra. Eu prefiro comemorar com um simples bombom e, se tudo correr bem, tentar copular com a proficiência dos coelhos. Já são motivos suficientes para se comemorar... e bastante!