Passeando no cinema

 
Passeando no cinema
 
 
     Era mais um domingão desses no dezembro paulistano e nós estávamos por aí “Perdidos na noite” e “Sem destino”. Nestes nossos “Tempos modernos” o final do ano já não é mais de esperar o Natal como um festejo cristão. As pessoas se imbuem de um irrefreável sentimento consumista e, ao sair pelas ruas, parece mesmo que está “Todo mundo em pânico”. O trânsito é de espantar com um volume atípico de veículos trafegando pelas ruas. Mesmo estando nos estertores de um final de semana, mais parecia “A hora do rush”.

     Caía um chuvisco fino e, ali, aprisionado no carro retido em um engarrafamento na Marginal do Tietê, meu ímpeto era de sair correndo “Cantando na chuva”, porque um sentimento claustrofóbico se apossou de mim. De repente, houve a sugestão de que fôssemos dar uma volta num “shopping” qualquer da vida. Eu me retorci por dentro porque, no meio da turba desvairada, invariavelmente, me sinto “Um estranho no ninho”. Houve, contudo, um acréscimo no convite para que fôssemos, não às compras, mas ao cinema. Isso tornou a coisa mais interessante, até porque meu tédio – que é “Duro de matar” – estava evidente e eu, àquela altura, já me postava “A espera de um milagre”.

     Fiquei em dúvida, por alguns instantes, esperando algum sinal que viesse d´“O sexto sentido”. Eu queria preservar meu bem estar, mas não queria decepcionar a quem me convidava. Pensei comigo mesmo: “Faça a coisa certa”! Ainda, fui incentivado por uma cobrança, porque, em algum momento – por certo, de “Psicose” – eu havia prometido ir, algum dia, ao cinema. Então, me senti na obrigação de honrar meu compromisso e, assim, naquele instante, aceitei a sugestão. Posso ser, vez por outra, “Um convidado bem trapalhão”, mas nunca deixo de ser “O pagador de promessas”.

     Arrastávamo-nos, a essa altura, por algum trecho da marginal complicado pelo excesso de veículos e não havíamos decidido, ainda, ao cinema de qual “shopping” iríamos. De qualquer forma, fosse onde fosse, qualquer saída daquela tortura seria “Uma ponte longe demais”.  Eu torcia para que, ao menos, as nuvens daquela chuva fina abrandassem seu ímpeto ou fossem despencar em outro lugar. Eu queria muito que elas fossem embora “... E o vento levou”. Agradeci aos deuses da natureza que, enfim, não “Esqueceram de mim”.


     Ao meu lado, ela falava e falava sobre os filmes na programação, com uma excitação que não contagiava meu renitente desinteresse. Insensível, adormeci pesadamente ali mesmo, sentado no banco do carro. Ainda bem que existe o cinto de segurança para reter “Um corpo que cai”. Minha gafe foi notada e houve um suave pedido para que eu acordasse. Não percebi “O chamado”. Daí, o tom de voz subiu e eu, enfim, acordei com “O grito” que, de tão estridente, deve ter causado uma dor de “Garganta profunda”.


     Era “Tempo de despertar” e, meio atordoado e sem saber exatamente onde estava, tentei me localizar enquanto, ao longe, focava as “Luzes da cidade”. Ao me dar conta do que havia acontecido e, embaraçado pelo fato, percebi que era necessária uma atitude que revertesse o mal estar causado por minha atitude. Apesar do constrangimento, tive uma idéia e, enfim, dei “Um golpe de mestre”. Não tenho “Uma mente brilhante”, mas “De ilusão também se vive” e, naquela circunstância, pareceu-me que a melhor saída era fazer de vez uma “Proposta indecente” e, assim, rebati o convite para que o tédio fosse resolvido “Entre quatro paredes”.


“Aconteceu naquela noite”
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