Decifrando a crise global
Lembro bem minhas primeiras aulas de economia. Foi quando alguém me explicou que um economista é um ser que emprega metade de seu tempo fazendo previsões sobre o futuro e, a outra metade, explicando porque suas previsões nunca se confirmam. Mas, de qualquer forma, por definição é uma ciência!
Contudo, estamos na época da informação e tudo está globalizado. Assim, não é difícil que cada um, mesmo não sendo bacharelado em ciências econômicas, tenha lá seus próprios diagnósticos sobre a situação em geral. Confirmei isso na prática, ao entrar num bar, no centro velho de São Paulo, para tomar um cafezinho.
Lá, deparei-me com o dono do boteco que, por detrás do balcão, mantinha um acalorado debate com seus fregueses. Havia em pé, frente ao balcão, um sujeito todo encapotado, com um capacete numa das mãos e um malote na outra – motoboy, certamente. A seu lado, sentado num dos bancos, um senhor de lá seus setenta anos, ou mais, cuja ocupação não pude intuir – aposentado, talvez. No canto, não muito longe, sentado em uma das mesas, um outro sujeito completamente embriagado e, às nove da matina, já estava com uma garrafa à sua frente; este por certo, um desocupado assumido.
Pois o proprietário do estabelecimento, enquanto passava aquele pano de limpeza geral sobre o balcão – obviamente, o mais encardido do lugar – explicava como uns tais sujeitos chamados de “subprimes” tinham dado um golpe na bolsa de Nova York o que, em si, teria sido o estopim da crise, já que eles levaram uma grana preta de todo mundo e, agora, era preciso que alguém pagasse a conta.
O motoboy, com ares de ser esclarecido, retrucava, entre risos irônicos que, na verdade, o que tinha ocasionado toda a confusão foi o preconceito racial americano; e que o Bush havia detonado a economia de propósito só para puxar o tapete do Barack Obama. Ficamos sabendo que tal conspiração nascera do fato de que, por lá, já se sabia, de antemão, quem iria ganhar a eleição, porque nos Estados Unidos tudo isso é combinado entre a CIA e o FBI.
Aquele homem mais velho, coçando a cabeça e, depois, com o dedo em riste, disse que o problema havia sido ocasionado pelos Chineses que copiavam tudo, sem pagar nada a ninguém e que, assim, estavam se fartando de ganhar dinheiro, o que deixou o resto do mundo na lona.
O bêbado... arrotou! Tomou mais um gole seja lá do que fosse que bebia e, numa dicção quase indecifrável, somente pôde afirmar que ele ouvira nosso presidente Lula dizendo que o novo petróleo brasileiro, é um biocombustível feito de pré-sal e, assim, como seria vendido a rodo pelo mundo afora, iria garantir que, por aqui, nada nos atingiria. Arrematou, enfim, que ele confiava no “homi”. E arrotou de novo para encerrar sua fala.
Eu, docemente constrangido, interrompi aquele simpósio de notáveis e pedi meu café. O homem do outro lado do balcão, enquanto me servia, informou, também, que o preço do cafezinho subira. Indaguei o porquê e ele simplesmente respondeu: “O senhor mora em que planeta?! Todo mundo já sabe! É a crise, moço!”.
Conclusão: sou um ignorante mesmo! E já que não consegui decifrar a crise, meu castigo é que eu comece a pagar por isso... nem que seja no preço do meu inocente cafezinho.