Não há solidão maior do que aquela vivida ao lado de alguém a quem está deixando de amar, principalmente quando ela não tem consciência de que você não vê a hora de ir embora para qualquer outro lugar.
O morrer do sentimento, vivendo-o, é como uma sangria que não estanca, dói em si por não querer estar mais ali, mas não sabe como sair e dói no outro por sentir que nada anda bem, mas não consegue enxergar o que tem além.
A conversa já não existe, as poucas palavras que se travam são deploráveis, o outro ainda tenta se enturmar, puxa um assunto ou outro, mas é como se o som de sua voz não passe de zumbidos indecifráveis.
O toque causa repulsa, a ideia de voltar para casa e ter que se submeter faz com que tudo e nada seja desculpa para não o fazer, não pelo outro que nada tem a ver, mas pelo vazio e a culpa que vem depois, que te lembra o quanto é mesquinho por insistir em continuar algo que não tem mais sentido a dois.
Ainda resta um fio fino e invisível que os liga, por várias questões que só a imaginação pode determinar, isso te faz continuar, mesmo o coração dizendo não, a razão, ainda no controle, recita, como uma oração, cada motivo que te levou a estar onde está.
O romper do vínculo pode causar danos irreparáveis e não há com quem falar, a maioria só sabe julgar e no momento não é necessário um juiz e carrasco pior que si mesmo, ninguém consegue sair ileso.
Ser o vilão de uma história que tinha tudo para dar certo o coloca num lugar que ninguém quer estar, só você pode tomar a decisão de ir ou ficar, qual o preço mais alto a se pagar?
Já se postergou demais e tomar a decisão é a única opção, não há nada mais solitário do que enfrentar todas as emoções existentes nessa situação, não se sabe o que é pior, estar efetivamente só ou se sentir só ao lado de quem, um dia, foi a razão de não querer mais estar só.