Um dia me perguntaram qual era a parte mais difícil no desenvolvimento mediúnico e respondi que era a autoconsciência mais aflorada, uma vozinha que fica na sua cabeça te imputando a responsabilidade de seus atos e os atos dos outros, daí me disseram que estava louca, que coisas muito piores aconteciam e que isso nem era mediúnico, então eu respondi que a pessoa estava certa, mas em outros casos a vozinha que não cala, não fala tão alto a ponto de te calar e refleti que em todos os casos que ocorrem no desenvolvimento mediúnico, esse é o único que vem de dentro do seu eu mais profundo, todos os outros eventos são aleatórios e incontroláveis.
A pessoa não entendeu, para explicar melhor contei uma história antiga, mais ou menos assim: "O diabo vinha caminhando pela estrada e avistou um burro amarrado a um tronco, no meio de um sol escaldante, o diabo parou e com dó do burro decidiu solta lo, e seguiu seu caminho, o burro por sua vez achou por bem atravessar a estrada e chegou a uma plantação de milho, comeu tudo, o vizinho, dono do milho, ficou muito puto da vida e sem pensar duas vezes sacou uma espingarda e matou o burro, o vizinho, dono do burro, ficou fulo da vida e meteu dois tiros no outro para vingar a morte do bichinho.
Ocorre que o vizinho, dono do milho, tinha dois filhos, esses, com odio pela morte do pai, saíram em caçada e mataram o dono do burro, os filhos do dono do burro, em retaliação, mataram os dois filhos do dono do milho e assim se seguiu por gerações, intrigas, mortes, desentendimentos e quando perguntados sobre o porquê do ocorrido, todos dizem: foi o diabo o causador disso tudo, ele é o mal da humanidade, destruiu essa duas famílias.
O diabo só tomou conhecimento do ocorrido tempos depois, até pq ele tem mais o que fazer do que cuidar da vida dos outros, ao saber do ocorrido o diabo disse: mas gente eu só soltei o burrinho que estava debaixo de um sol escaldante e colocaram a culpa de tudo em mim? Ora, por favor! "
No caso do desenvolvimento da mediunidade a diferença é que quando o dono do burro ficar sabendo que o vizinho matou o animal e entrar esbaforido em casa querendo matar um, ele irá se deparar com o próprio diabo sentado na mesa da cozinha, tomando um café e comendo um pão de queijo, quieto e tranquilo e ao contar que a culpa era do vizinho que matou o bichinho e do diabo que o soltou, e que vai pegar a espingarda para resolver a pendenga, o diabo vai olhar para ele e dizer: então foi você quem prendeu o burro no sol de meio dia, sem água ou comida, então foi você o responsável de eu ter soltado o burro, ele não merecia o sofrimento que estava passando, e se ele atravessou a pista e comeu o milho era porque a natureza dele pedia isso, você o deixou faminto, pegar a espingarda e resolver, não vai resolver nada, assume a sua culpa e ajuda a resolver a situação.
Depois de ouvir o diabo, a única coisa digna de se fazer é sentar, encher uma xícara de café e se calar com um pão de queijo na boca, em companhia do próprio diabo.
É parar, ouvir e se perguntar até mesmo porque você nasceu.
Essa vozinha todos temos, mas quando desenvolvemos a mediunidade ela ganha mais voz e se você não a ouvir as consequências são drásticas e não dá para colocar a culpa no diabo, você já sabe que a culpa é sua.