ONDE OS FRACOS NÃO ENTRAM
Naquela manhã abafada, Ary Cardos, presidente da Absurdia, reuniu seu ministério. A renomada arqueóloga e ministra da Educação, Idalina Mentéllia, abriu os trabalhos anunciando o novo curso obrigatório nas escolas:
— A partir do próximo semestre, nossos alunos irão aprender todos os segredos da mumificação.
O presidente deu um soco na mesa, assustando a ministra:
— Basta de múmias por aqui. Cancele isso, Idalina. Estamos gastando demais com as merendas. Por isso, o curso será a respeito dos benefícios milenares do jejum. É tudo milenar, como você adora.
Aniz Piron, ministro da Economia, defendeu a criação do imposto sobre a timidez.
— Temos observado que as pessoas tímidas apresentam uma enorme dificuldade de empreender atrapalhando o crescimento econômico.
Ary Cardos esbravejou:
— Assim não dá! Tenho de pensar em tudo? Deixe os tímidos fora disso. Meu alvo é outro: vamos taxar em dobro os malandros. Eles ganham fortunas na indústria do sexo.
Ao ouvir a palavra sexo, Idalina Mentéllia deu um gritinho abafado, deixando cair o leque que usava para se abanar. Ary Cardos fez um gesto em direção ao seu secretário pessoal, que pegou o objeto do chão. O presidente voltou a encarar Aniz Piron revelando sua decepção em uma frase:
— Eu esperava muito mais de um ministro da Economia.
Em seguida, num movimento brusco, Ary Cardos levantou-se e deu uma volta em torno da mesa:
— Cansei de fazer o trabalho de vocês. Se eu não fosse um poço de honestidade descontaria uma parte do salário de todos, e o dinheiro iria pro fundo da minha campanha de reeleição. Mas eu sou honesto. Ouviram bem? Eu sou honesto.
Ninguém ali se atreveria a discordar. No fim do mês, o fundo de campanha receberia as doações de todos os ministros.