Deu uma louca em todo mundo

Deu uma louca em todo mundo

Em homenagem a MONTEIRO LOBATO e a AMÁCIO MAZZAROPPI, a Câmera Municipal de Taubaté resolveu fazer uma assembleia extraordinária com grande peso da Literatura Universal.

Não era uma sessão plenária, era uma assembleia extraordinária. Estavam presentes: CHAPEUZINHO VERMELHO, BRANCA DE NEVE, OS TRÊS PORQUINHOS, O LOBO MAU, A TURMA DO SÍTIO PICA PAU AMARELO, RAPUNZEL e outros mais.

Era o JOÃO PÉ DE FEIJÃO que coordenava a exaustante reunião. Solene cuja já se estendia por umas três noites. Era o período de recesso da casa solene ao povo do mundo real. Por acaso alguém já viu um político trabalhar na virada do ano?

— Silêncio! – estressou JOÃO PÉ DE FEIJÃO. — Não está dando para escutar nada.

E não é que o silêncio reinou!

Quer dizer, reinou até a EMÍLIA resolver aparecer.

— Gente, por favor, vamos acelerar esta reunião! Do jeito que estamos, se a gente não chegar a um acordo, continuaremos a arcaíca vida e só perderemos tempo.

CHAPEUZINHO VERMELHO interrompeu:

— Essa boneca tem razão! Quero atenção ao meu caso. Estou cansada dessa mesmice de só ficar levando doces para minha vovozinha e a coitadinha sempre devorada pelo o Lobo Mau. Na verdade, nem mau ele é...

O LOBO MAU entrou em cena:

— Garota atrevida, só não te devoro por necessitar de sua força para a minha história mudar. Estou farto de comer carne de velha e esses porquinhos passados da validade. Pô! Vivemos em pleno século vinte e um. Quantas coisas boas e gostosas surgiram de lá para cá. Quero saborear as deliciosas guloseimas do tempo atual.

DONA BENTA se levantou:

— Hummmmmmmmm! De Cozinha eu entendo, mas não é que esse lobo tem razão? Nem eu mesma estou me reconhecendo na cozinha, depois dos deliciosos doces que EMÍLIA tem me mostrado do mundo real!

OS TRÊS PORQUINHOS se levantaram. Dois permanecendo no silêncio, enquanto o líder falava:

— Estamos cansados desse lobo. Hoje existe academia. Queremos fazer academia, aprendermos muitas lutas e mudarmos de vez nossa história de sempre servir de sopinha a esse lobo.

LOBO MAU tentou se pronunciar, mas BRANCA DE NEVE o venceu na fala:

— E eu, então! Nossa, estou farta de sempre ter que morrer e só levar um beijo em toda a história da Literatura. Quero beijar mais! Quero conhecer o tal de shopping que o povo fala. Ai, meu Deus! Lembro de um dia, uma leitora me levou num shopping e me deixou numa das mesas de grande movimento de comilança. Nossa! Que vontade de ter criado vida e ter se tornado um ser real!

BRANCA DE NEVE prosseguiu:

— Meus amores que me desculpe, mas eu também queria uma história nova. Estou cansada de comer maçã, principalmente uma envenenada e sempre ser passada a perna por uma velha. Queria tudo diferente! Homens altos, fortes, ricos e de preferência que me levasse naquela praça que a mexeriqueira me largou. Muito interessante o local. Bem melhor que sempre adormecer sobre uma pedra gelada e sem vida.

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS surgiu. Todos se espantaram. Surgiu do nada. Assim que um puft!, raiou de frente a um espelho no canto direito da casa solene.

— Eu também quero participar! Por que não fui convocada? Estou farta dessa vida. Entro num espelho, caio num buraco, converso com objetos e seres estranhos. Como dizem os humanos, isso é para quem fuma um baseado. Eu sou de paz! Eu nem sei o que é isso. Também quero mudança na minha história. BRANCA DE NEVE tem razão, sei muito bem do ambiente que a leitora a deixou. Mas sei muito mais do que isso. Conheço e bem o mundo da tecnologia. — Quero uma história contemporânea. Quero o mundo do celular com muitas selfs e wiffi à rodo. Quero contato com os melhores galãs da Literatura. Estou farta dessa mesmice.

— Acordem pros livros, seus tontos! – berrou uma horripilante voz ao meio de todos.

O público se espantou olhando por todos os lados para ver se encontrassem o ou a determinada personagem intrusa.

— Quem é que está falando? Apareça! – ordenou o JOÃO PÉ DE FEIJÃO. — Apareça e dê a tua justificativa.

— Não posso! Estou presa há séculos no livro da RAPUNZEL. Também quero ser ouvida. Eu quero sair daqui e viver essa vida contemporânea que a ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS tanto fala. Quero mudar de vida! Quero ser uma bruxa boazinha. Quero ser a mãe que a RAPUNZEL não teve.

RAPUNZEL se manifestou insinuando muito emocionada com o fato.

Um estrondo murmúrio ouviu-se por toda a parte. Um barulho que só foi diminuindo com a repetitiva pronúncia “Hei! ”, cuja disparava berradamente pela multidão.

— Hei! Hei! Hei! Também quero falar!

— Mas quem é você?

— Sou CAPITU, a injustiçada do DOM CASMURRO. Estou farta de passar toda a Literatura Brasileira na boca do povo se eu traí ou não o Bentinho. Gente, quanta calúnia contra a minha pessoa. Imagina que eu, uma mulher do pleno século dezenove iria trair o meu amado! Quero mudança e com dignidade de um amor fiel e comprometido.

— Um momento, Senhor JOÃO PÉ DE FEIJÃO! – disse alguém saindo do meio da multidão e partindo educadamente em direção do líder. — Sou PEDRO BALA do livro CAPITÃES DE AREIA. Desde que começamos esta reunião, só tenho presenciado discussão. Meus caros irmãos, quanta enrolação! Diante de tudo do que queremos somente algumas pessoas hão de mudar nossa história. – pausou PEDRO BALA, logo exigindo pelo o microfone a colaboração de todos os personagens presentes. — Somente um escritor, roteirista, cineasta, diretor de teatro ou alunos intermediados por professor poderão mudar a nossa história. Nós não temos esse poder. Mas eles têm. Quem é que se habilita a conversar com um deles?

Dali em diante começou um grande murmúrio, devido à curiosidade sobre uma possível solução ao grande desafio caído na mão de todos. Todos desejariam uma resposta e assim surgiu o primeiro livro só de onomatopeia.