CHEGADA AO VALE DOS OSSOS
A nave seguia seu fluxo hiperespacial com rumo ao planeta Eta Carine 4, quando uma anomalia de gravitrons aconteceu abruptamente. Dragados imediatamente da corrente de fluxo hiperespacial a nave rapidamente foi atraída pelo campo gravitacional daquele enorme planeta rochoso, até então desconhecido. Capitão Fluvius conseguira alertar a tripulação a tempo, e todo pessoal não essencial conseguiu se abrigar nas cápsulas de hibernação a tempo.
Camila foi a primeira a acordar, como sempre hiperventilando de ansiedade. Não gostava da cápsula de hibernação, ela lhe trazia sonhos recorrentes. Sonhava que estava consciente em seu próprio velório, que tentava avisar a todos de que estava viva, mas que mesmo assim era enterrada viva. Ouvia cada pá de terra batendo na tampa do caixão, porém nenhum músculo ou mesmo suas cordas vocais reagiam ao seu cérebro tentando desesperadamente sobreviver.
O cenário fora da cápsula era de total destruição. Fios expostos faiscavam, uma densa fumaça preenchia o ar, mas havia uma fonte de luz à esquerda e uma corrente de ar vinda de lá. Cautelosamente se esgueirou, evitando ferragens expostas e fios de eletricidade pendurados, para ao fim se deparar com a visão mais estupenda e aterrorizante de toda sua vida.
A nave deslizara por quilômetros sobre um planalto, parando a poucos metros do precipício. Abaixo, um deslumbrante vale se descortinava, com cachoeiras e um grande rio. O mais aterrador porém era o que se assomava diretamente sobre a cachoeira: um gigantesco crânio de uma criatura, quase do tamanho de sua nave. Olhando com mais atenção, percebeu que outros fragmentos ósseos faziam parte do cenário: costelas e espinhas dorsais pontiagudas, há muito cobertas com hera e musgo.
Camila tremeu de medo e excitação. Um planeta com vida? Ar respirável, vegetação, animais! Isso era raríssimo, Todos os planetas encontrados até aquele momento necessitavam em maior ou menor grau de terraformação para chegar naquele estágio. Grandes animais herbívoros pastavam tranquilamente no vale e aves planavam nas correntes de ar. Mas e aquilo? E aquele crânio colossal com longos caninos? Seria um animal extinto ou seria algo com o qual se preocupar?
E eis que de repente... A terra começa a tremer!
(Arte by Einar Martinsen)