A CASA DO ADEUS
Uma estrada de terra levava ao casarão abandonado. Alguns detalhes de sua arquitetura ainda permitiam vislumbrar a beleza de outra época. Ao abrir a porta, Alice viu um homem vestindo uma túnica preta aparecer como por encanto no alto da escada. Naquele exato instante, ela começou a ouvir uma música. O som vinha de um velho piano de cauda no meio da sala. A melodia era suave e ao mesmo tempo triste. Apesar do ambiente sombrio, por alguma razão inexplicável, Alice não sentiu medo. Logo ela, sempre tão covarde.
Com o olhar fixo em Alice, o homem desceu a escada.
— Estava à sua espera.
Quando a saudade de Antonio se transformara em tortura, Alice pediu para esquecê-lo. Agora, diante daquele que atenderia seu pedido, ela se perguntava se estaria pronta.
Num gesto ágil, o homem apontou para o longo corredor no fundo da sala:
— Se quiser esquecer Antonio, basta caminhar até o fim daquele corredor. Enquanto estiver andando, você verá suas lembranças projetadas nas paredes, como se fossem cenas de um filme. Ao chegar do outro lado, as imagens desaparecerão. Abra a porta e saia, sem olhar para trás. Nunca mais se lembrará dele.
Sentindo o coração bater cada vez mais rápido, Alice caminhou até o corredor e viu as primeiras imagens do homem que amava na noite em que se conheceram. Um passo a mais e estaria livre de Antonio. Um passo. Apenas um passo, ela repetia para si mesma enquanto seu corpo parecia congelar. Alice chegara tão perto. No entanto, virou-se para o homem e disse:
— Eu não posso.
Mais uma vez, o homem a encarou. E então respondeu:
— Você pode. Mas, talvez, não queira.
Durante muito tempo, Alice pensaria naquelas palavras. A verdade era tão simples.
NOTA DA AUTORA:
ESTE CONTO FAZ PARTE DE UMA SÉRIE QUE COMEÇA COM O EPISÓDIO "A CASA DOS SUSSURROS". PARA MELHOR COMPREENSÃO DO ENREDO, LEIA A SEQUÊNCIA DOS CONTOS.
(*) IMAGEM: MICHAEL SCHWAN