O CASO DA SENHORA D
Naquele fim de tarde, Horácio ouvia sua nova cliente tentando entender o que ela desejava.
— Você acredita em amor à primeira vista? Rafael foi meu primeiro namorado e o único homem que conheci.
A senhora D tomou um gole de água gelada, antes de admitir:
— Piegas, eu sei. Mas nem tudo é romance em minha vida.
O detetive não se conteve:
— Aposto que não.
A mulher fixou o olhar na janela entreaberta. As primeiras gotas de uma chuva fina escorriam pelo vidro.
— Acho que ele me trai. Às vezes me pergunto se isto acontece desde o início do nosso casamento ou se é um caso recente. Nunca o confrontei. E tenho certeza de que nem em sonho ele desconfia das minhas suspeitas.
Horácio tentou encurtar a história:
— Devo segui-lo?
Num gesto lento, a senhora D colocou o copo em cima da escrivaninha.
— Quero todos os detalhes de seus passos. E, claro, muitas fotos.
— O que pretende fazer com as provas?
Por um instante, a senhora D encarou o detetive, e então respondeu:
— Me inspirar. Meu marido vive dizendo que eu deveria escrever um livro.