INIMIGOS DO FIM
— Moça?
— Sim, me desculpe. É a minha primeira vez.
— Eu pedi a senha, moça.
— O amor nunca morre.
O homem carimbou uma folha de papel entregando-a a nova integrante do grupo secreto.
— Atenção ao seu número. Você será a quarta a falar.
— Posso contar tudo?
— Quantas vezes quiser.
Ela percorreu o longo corredor que levava a uma antiga sala de cinema. Ali, as pessoas repetiam suas histórias amorosas como um mantra. O tempo passara, mas os amores interrompidos seguiam vivos dentro delas. Não havia lugar para o fim.
Em cima de uma pequena plataforma, um senhor de terno cinza comandava o grupo.
— Número quatro.
A mulher levantou a mão e disse:
— Estou aqui porque não consigo esquecer.
Todos responderam a uma só voz:
— Nenhum de nós esquece.
(*) IMAGEM: MIA FARROW
"A ROSA PÚRPURA DO CAIRO"
DIREÇÃO WOODY ALLEN