Sodade da Roça, Caminhada Feliz
Ao meu amigo Mandruvachá,grande ator, compositor e poeta do sertão.
Vida da roça
Vida passage
Dura lida bataia
Bêra de corgo
Nossa paioça
Memo qui miúda
Nossa doce choça.
A Mamãe e o papai
Minha irmã inda pequena
Ali aquele doce rincão
Dadonde nóis vida de bêra
Aquilo pra nóis era um tisôro
O sole batizano a álima
Nossa subrivivença é ôro!
Dispois da labuita
A gente ia agardicê numa capela
Junto cum ôtas famia
Lá nas banda de ôto corgo
Ali era feitia as oração
Cada um cum seu pidido
Era fervorosa a devução.
Mamãe vistia na gente
A mió peça de rôpa qui tinha
Papai e minha irmanzinha
Já aperparado pa saí
E lá nóis no camin
No breu da nôte o vento
Uma isperança sem fim.
O Curiango assanhado
Disafiano a Curuja
Minha mão na mão de papai
Mamãe abraçava a piquena
Os zóio da minha irmanzinha briava
Naquele escuro cenáro
Era o qui alumiava.
E papai parava e oiava pa trais
E cum otoridade raiava:
- Rajado! Lião! Vorta pa casa! Vorta!
Vorta Rajado! Vorta Lião!
Era os dois cachorro
Nossos amigo de saga
Da paioça os guardião.
E chegano no lugá da reza
Eu já cansado da caminhada
E tomem da lida diára
Deitiava num cantin e no chão
Inquanto a reza tocava
Meu sono criança aprindiz
Os anjo ali me guardava.
Fim da reza
É hora de vortá pa casa
Mamãe cum a irmã no colo
In sonho ela ainda tava
E eu no colo de papai
Agarradin no seu prescôço
Cum amô me abraçava.
O chêro da minha mãe
Ele me atraís, me embriagava
Mais, minha irmanzinha
Inroscava nela e aquilo
Eu cumpridia o qui é tê
A essença daquela qui deu lúis
Pa mode nóis vive.
AH! Mais tomém
Nos braço de papai
Eu sintia aquele suore da lida
E ele na prosa cumigo
Os vaga-lume assuntano
Eu os pôco ia adrumeceno
E s istrela nos alumiano.
Num dia desses a tristeza
Qui num me sai da lembrança
Foi condo nóis vortemo pa casa
E que o Rajado e Lião
Papai mandô vortá
Incontremo os dois babano e agunizano
E a própria morte insaiá.
Nas ida e vinda da vida
A gente passa pu turmento
E muita contrariação
Num sei se era veneno
Ô má querença de arguém
Só sei que ali nóis interremo
Aquêz qui nunca fêis male a ninguém.
Tudo isso é passage
No ôto dia a lida na álima
O coração im pedaço
Qui nada se acarma
Mais as isperança tava im Deus
Sigui a vida era preciso
Pra esses dia meu.
Aquela vida difísse
Era espêio pa nóis inxergá
Qui memo naquela vida sufrida
A gente tinha força pa mode arrisisti
Asvorta do tempo
E da terra sgrada
Broitava o alimento
O consolo tava no nosso quintale.
E bem na porta da cuzinha
Que anté sirvia de sombra pas galinha
Um pé de limão rosa
Que seus fruto insalava sua essença
Dêxano mais linda a prosa
E a vida de boa querença.
Cumo nos dia de hoje
Nóis num tinha Caca-cola
E nem sabia o qui era
Nóis nem sabia adonde tava
O tale de Goraná
Mais sabia da gustusura do suco
Qui aquele fruto nos dá.
Dali a saborosa limonada
Adoçar? Era cum rapadura
Isprimia o limão numa vazia
Rapava a rapadura
Mamãe numa aligria
Nóis ali sentadin
Assuntano aquela magia.
Óia ! Num vô delatá
Pu mode quê
Hoje eu alevantei cum sodade
Meus zóio enche d’água
Lembrano de daquele tempo
E esse vento de mim arripio
Me trais o contentamento.
Qui sodade de papai e mamãe
Aquêz que me insinô os traço da sina
Eu vida ribêra
Lágrama verte im mim catrumano
No colo do sertão isprendô
Matuto à nossa manêra
Qui no meu sangue ficô.
Adonde esses meu pé pisar
Meu rasto é carimbo na terra
Suore de nóis vertê
Minhas viagem nas andança
Parage de nóis famia filiz
Cumigo ficô as lembrança
Daquele cantin raiz.
Eu agardeço a Deus
Pu tê vivido esse tempo
Eu imbornale das istóra
Meu suore no arforje
Belço imbigo interrado nesse chão
Papai...mamãe brigado!
Pu me criar nesse sertão!