A Porteira e o Carro de Boi
Quando o patrão aqui
Há anos atrais chegô
Comprô essas bela terra
De Fazenda Ispora de Prata
Ele batizô.
Foi logo lavrano a Aruêra
E cum muitio capricho me fêis
Te digo: muitio prazêre
Eu sô a Portêra
E quem é vocemecê?
Eu tomem sô de Aruêra
Fui feitio cum muitio amô
Dêxo o rasto na istrada
Sô da lida, sô a saga
Istradêro e sonhadô.
No canto da passarada
Imbrenho na meludia
Pra mim o tempo num foi
Meu som é um viulino afinado
Eu sô o carro de boi.
Mais que belezura
Essa linda sinfunia
O Bêja-frôre assanhado ispaiano a harmunia
E o canto da Saracura
Anunciano o novo dia.
Meu nobre carro de boi
Pega seus acorde
E ajunta cum o meu rangê
Nossa tuada é uma magia
Que incanta ao arvuricê.
Pra mim vai um prazêre
Fazê esse dueto ao matuto
Que sonha cum a semente brotá
E a chuva dengosa batiza
Pa tudo prusperá.
É um mistéro a vida
Mais é doce a lida
E cum a terra num tem mutreta
Eu levo pu mercado feitio o meu umbigo
O risumo da coiêta.
Pro mim já passô:
As lágrama, Fulia de Reis
Congado e Catira
Tomém passô o sorriso
De quem ama sem mintira
Prisenciei o casamento
Da mocinha do patrão
O prefume dos campo ao vento
Vistido rodado de chita
E laço de fita de argudão.
Eu carregava os noivo uai!
Infeitiado cum as frôre do Ipê
Ao canto do nobre Bem-te-vi
Minha roda afinada incantava as vereda
Do charmoso Buriti.
Eu vi o santo Pade abençuá
As aliança e o casale
Vi os patrão de aligria chorá
Dibaxo da Gamilêra
Aquele lindo artá.
No colo da meiga noite
Brinco cuma as istrêla
E mergúio no doce sereno
Meu sonho ta no canto do rio
Nas curva do Rio Piqueno
Passa boi, passa boiada
Eu de ôio na istrada
Quem vai sempre qué vortá
Vô isperá pelo sinhôre
Pá mode nóis prusiá.
Ah! Nóis vai prusiá.
Cum licença D. Portêra
Vocemecê pode abri?
Meus boi já ta na canga
Minha caminhada é longa
Tenho que parti.
Mais condeu vortá
Pro favôre abre os braço
Vô chegá carente de abraço
Pois seu rangê me acarma
Esse é o camin queu traço.
Vô ficá assuntano
A curva do istradão
Quando a puêra alevantá
Vai broitá os arripio
Vô chorá de imoção.
Im sabê da caminhada
Dos abôi e do regresso
E da grande sartifação
Im vê o resurtado da venda
Do risumo da prantação.
Eu vô chegá bem cansado
E a minha junta tomém
Mais vô chegá bem filiz
Sabeno qui o meu distino
É nesse canto raiz.
Eu carro de boi...
E a sinhurita a dama protêra
Nóis dois fais parte da istóra desse chão
A sinhurita abre os braço pro mundo
E eu carrego os fruito do sertão.
Inté!