Nas barrancas do Rio das Velhas
Numa tarde de verão
Raimundo do Bento pescando
Junto a calmaria do sertão
O silêncio foi quebrado
Pela evolução
Um moço muito grã- fino
Em seu belo carro
Cumprimentou o Raimundo
Com muita educação.
Boa tarde meu Senhor!
Vejo sua labuta
Meu nobre pescador
Tu tens que pescar é no mar
O barulho das ondas mais intenso
Tem areia pra pisar
As conchas te levam a água
E as Gaivotas a cantar
Lá o horizonte é perfeito
E os barcos a vela a navegar!
Lá a água é salgada
Os peixes saltitantes
Tem a Baleia, o Golfinho, o peixe Espada
O Camarão a onda leva
E ele volta numa fartura danada
Tem o Badejo, o Caranguejo, a Tainha
A nossa mesa fica enfeitada
Seus olhos vão ver coisas
Que a sua alma vai ficar admirada
Larga esse rio seu moço!
Isso aqui não vai te dar nada!
Largue esse embornal
E abandone essa canoa
Pesca é no litoral!
E se vê a linda garoa
Procure outro rumo
Lá terás uma vida boa.
Nesse recanto não vejo nada
A não ser um sapo na lagoa
O que o senhor está esperando
Pra sair dessa proa?
Meu caro e nobre sinhôre
Eu arrespeitio a vossa palavra
Agora se pudé me iscuitá
Me faça um favore.
Cada um tem seu sole
E suporta o seu calôre
Dispois daquela manjedôra
Jesuis sofreu cum as dôre
Na vida tem riso e choro
Nem tudo é belas frôre.
Se no mare tivé barranca
E o silênço fô quebrado pelo canto da Juriti
Se o barúio das água fô mais carmo
Pa mode nóis pudê ôvi:
O gorgei da passarada
Ôvi o matuto que fala deferente
Na luita daqui e dali
Vê os manso regato e as água cintilante a reluzi
E as perda cantadêra numa sinfunia
Nas nossa álima a invadi...
Óia! Aqui nóis tem os corgo
Abasticeno o rio
Suas água doce é gostosa
Faça sole ô faça frio.
A canoa dança na corredêra
Na chuva ô no istio
E num tem vela
Os remo é o desafio
O suore é risistença
E a sina fio a fio.
Im nossas água doce
Os pêxe tomém é sartitante
É lindo vê a arribação
E a piracema invorvente
Nóis tem Curimatá, Matrinchã, Surubim
A Traíra, o Dôrado e a Piranha saliente...
Pois aqui se faiz a muqueca, o assado e o fritado
E nóis come filiz e contente
E sem contá a cachaça
Qui ôcêis chama de agardente.
Seu moço! Posso inté largá tudo e sigui vocemecê
Mais aquele sapo lá na lagoa
Anuncia a chuva pa mode floriscê
E esse sertão sagrado
Qui o sinhôre acaba de cunhicê
Tem muitias vereda que é uma belezura...
E de sede a criação num vai morrê
Tem tomem ôtos manaciá
Qui o Sinhôre precisa conhicê uai...
Seu moço! Nas minha barranca
Eu drumo no colo da Iara
Pruseio cum o Cabôco D’água
E sô rudiado de carranca.
A puêra faiz duêto cum a brisa
Minha paioça é quente de querença
Nossa fé é gigante
E cum fé frevososa, a isperança
Num pidimo mais do qui precisa
E tudo que nóis pede , nóis arcança.
O Mare nasceu pa sê mare
O rio nasceu pa sê rio
O rio diságua no mare
Sem nenhum desafio.
O mare tem suas beleza
O rio os tem seus mistéro...
Os dois a sutileza.
Vamo meu Sinhôre!
Merguiá nesse universo
E contemprá essa beleza!
Intão meu sinhôre?
O Sinhôre pode inté me leva à suas maravia
Mais inhantes
Iscuita o Trem apitano
Nas linda serras azule
Assunta os sino das capela
E o brilho dos cristais
Seu moço!
Aqui é Minas Gerais!
O Sinhôre inda qué me levá?
O Senhor: - Não! Não meu senhor! Jamais!
Inté!