MINHA HORTA
Na minha horta
Tem um pé de saudade
Pois para mim o que mais importa
É ter felicidade
Da minha horta
Ouço o canto da Seriema
Ao lado da pequena
E sinto o cheiro da criação
Arrepio...
Com a sinfonia da passarada
Recebendo a madrugada
No compasso do meu coração
Lá na cozinha
O soberano fogão à lenha
Todo em brasa e aquecendo
O nosso bangalô
A Teresa cantando feliz da vida
E a criançada se acordando
Como o desabrochar da flor
Na minha horta
A relva molhada
É o caminho da nobre brisa
Que perfuma a plantação
O João-de-barro
Apanha água e terra
Barro...
Para a sua singela construção
Na minha horta
A terra se abre de prazer
Ao ver a semente dengosa
Querendo
florescer
Na minha horta moço
A porteira sorri pro mundo
Quando faz-se abrir
Até parece as asas da borboleta
Num jardim florido
Ao mel invadir
Na minha horta
Passa um rio caudaloso
Que alimenta aos barranqueiros...
Rio elegante
e charmoso
Ele canta dia e noite
Na alma do canoeiros
Na minha horta
Sacio a minha sede
Debaixo dos Buritis
Mananciais cristalinos
Frutos dos dons divinos
Saberes que eu sempre quis
Na minha horta
Ouço a ponteio da viola
Faço versos com o vento
E ele me faz viajar
Em cada nota uma saudade
Em cada saudade um alento
Que faz o meu amor incendiar
Em minha horta
Em noite enluarada
Deito no colo da amada
E faço versos ao destino
Adormecemos
Um colado ao outro
Todo amor pra nós é pouco
É como um amor de menino
Na minha horta
Tem Mangaba,tem Ingá
E o saboroso Murici
Lá o Ipê abraça a lobeira
Aos olhos do pequi
Que deixa o seu aroma
Para felicidade do Bem-te-vi
Lá a Jaguatirica beija o Guará
O Tatu divide a sua morada
Com a doce Seriema
Nas madrugadas
O reluzir dos vaga-lumes
Que traz o encanto da brisa
Pra me aliviar dos queixumes
Na minha horta
Durmo com o barulho da chuva
E sonho com o verde
Da minha plantação
E bem antes
Do sol mostrar a tua cara
Este matuto aqui encara
O dia com devoção
Ao Santo fazedor de chuva
Eu peço proteção
Minha alma se agiganta
E os meus lábios à São José clamam
Em forma de oração
Minha horta,meu santuário
Minha raiz,meu rosário
Horta do meu aconchego
Paraíso de eterno sossego
Não preciso dizer mais nada
Estou esperando a água sagrada
Pra mode molhar meu torrão
Minha horta,seu moço...
É o meu idolatrado sertão!
Inté
Tinga das Gerais