A minha história
Começa lá no sertão
Numa palhoça ao pé da serra
Ao lado do ribeirão
A Saracura
Meu relógio matinal
Desafia a Juriti
Lá perto do bambuzal
Meu pai feliz na ordenha
E o radinho de pilha a tocar
Mamãe e o fogão à lenha
Cantarolando a cozinhar
Era muita fartura
Na cozinha e no paiol
Muito feijão na tulha
Labuta de sol a sol
Aquela sombra
Da imponente Gameleira
Beijando o carro de boi
Daquela lavrada Aroeira
Era ali que eu brincava
E a sinfonia da passarada
Despertava o meu viver
No encanto da toada
E quando cai à tardinha
O silêncio vai minguando
A criação se ajeitando
No mais lindo arrebol
Quando é noitinha
A lua prateada
Clareia a minha estrada
E a minha serra em caracol
Festa no povoado
E a devoção assim se fez
Ali a entrega da Bandeira
Dos Magos Santos Reis
Olhos marejados
Pedidos de chuva
Joelhos pelo chão
Era Janeiro, era seis
É hora de regressar
E nós ali na carroça
Até o valente Colosso
Sabia o caminho da roça
Lá moinho, toc, toc, toc...
É o milho, é o fubá
Meu coração, Tum, Tum,tum
No compasso a marcar
Ao lado da porteira
O velho Cedro e o tempo
Com seu amigo Jequitibá
Nas mãos do nobre vento
O corpo quer descansar
E o sono vem a galope
O sonho com as travessuras
No lombo de um belo trote
Pela manhã a fornada da mamãe
Fazia o maior alvoroço
Pois o cheiro lambia a palhoça
De Agosto a Agosto
Pão de queijo, Broa de Fubá, Pamonha
Na hora do almoço?
Franguin caipira, Quiabo e Tutu
Tudo feito com gosto
Sou matuto seu moço
Catrumano com orgulho
Gosto de uma prosa boa
De uma boa cachaça e não embrulho
O meu umbigo se encontra
Naquele belo rincão
Onde mora o meu pai
Mamãe e os meus dois irmãos
Hoje em dia vivo na cidade
Pra aprimorar meus estudos
Estou na faculdade
Pra conquistar uns canudos
Mas a faculdade da vida
Aprendi naquele rincão
Eu sinto cheiro da terra
E do meu nobre sertão!