Nada Vou Levar
Tinga das Gerais
Ah!Como amo!
O meu pedaço de chão!
Aqui nasci
Aqui quero morrê
Herança do meu veio pai
Que eu nunca hei de isquecê.
Dessa vida nada se leva
Num vô levá furtuna
Tampôco terra
Muitio menos a herança
Sô um cabra de fé
E num tulero a ganança.
Fiz um pidido à Ambrósa pa quando eu morrê:
- Pindura na parede da sala
Minha capa a o chapéu
Ao lado do nosso retrato
Já marcado pelo tempo
E ocê linda de véu.
A minha cartuchêra
E o istimado berrante
Intrega ao nosso fio Cici.
Ele sabe dos ataio
É o meu herdêro
E num vai saí daqui.
A sela e a ispora de prata
Pode amarrá na portêra
Vai infeitiá seu rangê.
No vai e vem da lida
Ela abre a guarida
Pa te protegê.
Meu cachorro pirdiguêro
Amigo inseparave
Intrega ao cumpade Nonô.
Cumpanhêro e parcêro
De todas as impreitiada
E um grande caçadô.
Dibaxo da Gamilêra
Junto da carroça
Dêxa o carro de boi.
Ele sabe da fartura
E que nossa bataia foi dura
E o tempo se foi.
Diga pa passarada
Pa num minguá o seu canto
E fazer filiz todo arvoricê.
Como é linda a canturia!
Parece inté os anjo
Cantano a Ave Maria.
Num se isqueça de pidi
Ao nobre Bem-ti-vi
Pa avizá a vizinhança.
Tenho muitios amigo
E quem pranta o amô
Cói a bonança.
Esse colá que carrego
Naquela corredêra
Cum muitio cuidado pode sortá.
A água do rio tem norte
E ele sempre me deu sorte
E vai pros braço de Iemanjá.
O meu laço de côro
Pindura no Jiquitibá
Que o Cici vai prantá.
Im cima da minha sepurtura
Ao canto da Saracura
Adonde vô reposá.
Inhantes que eu isqueço
E tamém vê se mereço
Vô te fazê o último pidido.
Num casa cum ninguém Ambrósa
Vô arreservá procê lá no céu
Um cantin pa ficá cumigo.
Num quero levá o orgúio
Nem tão pôco o ódio
Meu coração de amô vai cheio.
Chei de lembrança boa
Quem ama num magôa
Isso pa álima é recheio.
Dessa vida nada levo
Num sô de palavrão
Mais pode me interrá pelado.
E se fô primavera nesse lindo sertão
Infeitia meu caxão
Cum as frôre do cerrado.
Nada levo
Mais fica a minha istóra
Esse meu rincão amado!
Inté!