Ela subiu a ladeira calada e avistou a pedra em que costumava sentar-se. Mal despontava a aurora e já se podia ouvir os pássaros em festiva algazarra. Observou o mato cheiroso orvalhado, seguiu em uma discreta oração.
Ao chegar no cume do morro, pisou a relva fria, escalou aquela protuberância da rocha exposta e lá de cima observou o horizonte.
Como era linda a cidade vista daquele lugar. Só se via a parte nobre e a lagoa serena parecia dormitar. Revoada de pássaros enfeitavam o céu que era de um azul cada vez mais azul.
O seu silêncio matutino era o seu jeito de agradecer as benesses que o amor lhe oferecia. A grandeza da natureza, o carinho dos mais queridos, os animais que ela adotara, tudo isso agora era tão sentido no coração... Pensou em cada nome que ressoava em seu peito. Pediu à Deus por eles.
Um silêncio ainda maior e o sol já esquentava a sua face, lembrou da infância, dos banhos de rio, das frutas colhidas no pé. Ah, como a vida no campo era rica! Já há algum tempo na cidade grande, ia se esquecendo o gosto das laranjas e das goiabas que eram fartas no interior. Olhou à direita e viu o pequizeiro carregadinho. Teve vontade de apanhar... Mas já era hora de voltar.
Agradeceu aqueles instantes. Se pôs em marcha. Deixou as reminiscências, o pequi e a pedra convidativa... Mas levou consigo, a paz daquele lugar.
Cláudia Machado
28/4/18