Joaninha, joaninha...!
Mal raiou o dia e uma joaninha dançava na minha frente, esfreguei as mãos sobre as pálpebras: Desabrochou o poente, não era uma famigerada segunda-feira... na ausência da vontade do reabrir os olhos, a voz interna martelava pessimista, apontando para o nunca, o impossível e o jamais. O pé direito não queria se levantar... Encontrava-se em greve, as pernas não desejavam movimentar nenhum dos maninhos: - Para que servem cinco vezes dois...? Por que se tem cinco dedões em cada pé... ei você? Quantas pintas você pensa que têm nas costas?!
Joaninha não respondia e eu ouvia aquela voz antiga como se fosse perfurar os tímpanos, com toda força cada vez mais bem perto, no ataque histérico do rádio-relógio os ecos: - Não vai dar certo, não vai dar certo, não vai dar certo...
O casamento das palavras favorecia diversos cacoetes: O café no bule não será suficiente; a torradeira irá queimar demais os pães; dois ovos vão estourar os olhos na frigideira num só bléf! Por que esqueci de comprar sabonete... será que se colocando shampoo na esponja de banho se obtém o mesmo efeito?
Era a hora do espanto, até a poesia escrava da Esperança resolver empurrar para fora da cama as más companhias... foi necessário um gole de extrato de própolis puro, descer pela garganta seco, amargo feito fel, despertando lágrimas no canto (dormir com a barriga estufada cheia com pizza Hut só poderia ocasionar isto...), encontros e desencontros de cólicas soturnas entre os nós nas tripas de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Uma joaninha com pintas negras, pousou bem na ponta do dedo sobre a unha... e eu disse à ela: - O que seria do mundo sem as crianças... vá voar agora e em Paz, seu futuro não me pertence!
Rosangela_Aliberti
São Paulo, 10.XI.07
Mote oferecido pela Oficina de Rascunhos Poéticos
Foto: Galeria de Márcia_ - Flickr