O último nome que eu ouvi para este ser foi Capiroto. Você o conhece? Pois bem, Maria era uma menina que gostava muito de passear pelo bosque perto de sua casa, e passava as tardes por lá, mas nunca se deixava por lá até o escurecer, pois, dizem que aquele lugar era mal-assombrado. Bem, mal-assombrado era pouco, pois na verdade era a casa do Cão.
Como ele passava os dias a preambular pela cidade, o demônio voltava para a sua casa à noite. Você deve se perguntar o motivo de o Anticristo morar em um bosque específico, sendo que ele é o Rei do inferno, e deveria ficar por lá. Bem, na verdade ele tem muitas moradas, e não está em um lugar único ele paira e vive em muitos lugares e a sua materialização acontece sempre de acordo com as crenças e costumes do lugar.
Maria era simplesmente uma das descendentes mais antigas daquela região. Seu sangue era virginal e puro, trazendo muitas ligações com a era do culto ao Diabo. Maria era descendente de bruxas, e havia ainda bruxas que moravam ali, no vilarejo ao entrono do bosque, mas ninguém além delas sabia.
Por ser muito jovem a menina ainda não havia sido iniciada em seu mundo, mas sua família a preparava indiretamente. O tinhoso estava ali sempre para apreciar as oferendas e os cultos das bruxas de Sleepy Hollow. Claramente o chifrudo tinha um gosto pelas tradições antigas.
Nessa noite de lua cheia era o Sabbath, e Maria estava passeando pela floresta à tarde quando viu um vulto na floresta, como estava cedo, imaginou que fossem mantes passeando para namorar e espreitou pelas folhas, mas não conseguia alcançar Lúcifer. Ela acompanhou o quanto pode e percebeu que aquele lugar onde estava não era conhecido. Houve uma repentina escuridão e ela não sabia que estava ultrapassando o portal dos mundos, que Mefistófeles acabara de abrir. Como eu disse, era a noite do Sabbath, o dia em que os mortos andam pela terra entre os homens.
Estavam empolvorosos e nem perceberam a criança. Havia um cheiro putrefato no ar, cheio de enxofre e cor de azeviche. Esqueletos e corpos que estavam em decomposição, fantasmas, entes queridos que ela não conhecia daquela maneira, todos pareciam fantasiados e ela parecia uma fantasia.
Se abaixou e enquanto saiam os mortos a sua vida entrava diretamente para aquele lugar por sob as pernas dos seres que lá residiam. Tudo ia ficando quente e sua pele ardia de dentro para fora. Era como se seu corpo expulsasse a vida de dentro dela. Repentinamente ela começou a brilhar e tudo se iluminou, havia restos mortais por todos os lados, e um abismo onde ela quase se precipitara na escuridão.
Havia gritos de horror, havia sangue nas árvores que estavam em sua volta, havia ... havia... havia a sua família! Sua mãe, suas irmãs, muitas mulheres que ela via no dia a dia, estavam todas... mortas?
Coisa-Ruim, sem mais nem menos agarrou Maria pelos braços. A menina gritou e se debateu, Satã rugiu para ela e mostrou sua face horrenda, ela desmaiou e ele a pegou nos braços, e foi quando todas as outras mulheres, no plano terreno, puderam ver a menina pairando no meio do círculo que formavam, ela estava sobre a fogueira.
O Solstício de verão acabou, amanheceu um dia ensolarado e belo, Maria acordou nua no meio da floresta, correu para a sua casa e disse aos seus pais que havia estado no inferno e que Satanás a tinha sequestrado. Contou tudo o que aconteceu, quem vu em volta da fogueira e chorou muito, sua mãe lhe disse:
- Maria, acalme-se, você estava dormindo e teve um pesadelo, vá já para o seu quarto.
A irmã de Maria virou-se para a mãe e disse:
- Então ela é a escolhida?
- Sim, é ela.
Sinopse do livro Obra perturbadora
“Sempre do ponto de vista de crianças, suas protagonistas, os contos da Obra Perturbadora pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a produção deles.
Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer a tona a própria personalidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?
Descubra-se lendo a Obra Perturbadora, contos curtos e rápido de terror e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados pelo Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outro e o cinema do século XX e XXI.”
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