ESTRANHOS NO TREM
Embora sentisse o olhar fixo do homem sentado à sua frente, ela tentou prosseguir a leitura do único livro que trouxera na viagem. Porém, logo desistiu: a história era monótona demais. Do outro lado da cabine, o sujeito não tirara os olhos de Alice. Impaciente, ela o encarou. Nenhuma palavra. Nenhuma reação. Nada. E os dois ficaram assim: olhos nos olhos — em absoluto silêncio — até que o trem entrou em um túnel. E tudo escureceu.
Naquele instante, Alice ouviu a voz mansa do homem:
— Quando você largou o livro, eu pensei: e se a história dela também acabasse aqui?
Ao sentir a força das mãos do desconhecido em volta do seu pescoço, era tarde demais para Alice dizer qualquer coisa.