O CASO DO SENHOR N
Naquele fim de tarde gelado, Horácio começara a segui-la. A esposa do senhor N — ruiva e atraente — não deveria ter mais do que trinta anos. Esgueirando-se entre as árvores do parque, ele tentava descobrir a razão de estarem ali.
Enquanto caminhava, a mulher olhou para trás diversas vezes. Quando a ruiva escolheu um dos bancos para sentar-se, o detetive supôs que, a qualquer momento, outra pessoa a encontraria ali. No entanto, ninguém se aproximara. Horácio observou a mulher abrir o casaco. E, apesar do frio, desabotoar a blusa deixando os seios à mostra. O detetive concluiria em seu relatório que a esposa do novo cliente era exibicionista.
À noite, após uma série de compromissos exaustivos no escritório, o senhor N teve de encarar as reclamações de sua mulher:
— Contrate outro detetive. O cara é um babaca. Imagine! Eu quase congelei quando abri minha blusa, e sabe o que ele fez? Nada! Ficou lá, atrás das árvores.
Irritadíssima, a ruiva saiu do quarto batento a porta. O senhor N deu um longo suspiro. E resmungou:
— Esse fetiche por detetive vai me dar trabalho.