E é novamente primavera...
Ele (a) nascera alí, há muito anos atrás, sózinho, naquela esquina tranquila e esquecida que hoje já nem reconheço mais.
Todos o conheciam.
Miúdo, dum moreno descorado, crescera lentamente sob a adversidade da vida, e quase também não contrastava com a paisagem desvitalizada.
Às vezes, olhava para a própria realidade, e desejava ter um brilho diferente, como a maioria das vidas que o rodeava.
Mas, conforme enfrentava o tempo, confortava-lhe o seu aprendizado, pois agora já sabia que os climas da vida, embora recicláveis, são passageiros, e subitamente nos acalentam...até mesmo o inverno mais rigoroso...
E o tempo passou.
Eu, na correria do dia a dia, sempre o observava num movimento quase estático,a brincar, ora sob o calor do sol... a se encorajar, ora sob a tempestade.Aos poucos, pude perceber que era uma fortaleza.
Tinha garra!
Embora sem colorido, mas já adulto, tinha braços frondosos, e de súbito pude perceber que adquirira uma altura avantajada, e um porte de gigante!
Há poucas horas...nos cruzamos na calçada da esquina...
Sorriu-me com ternura, e mesmo sem me dizer nada, entendi o seu recado...
Entrelaçada intimamente ao seu tronco, a repousar sobre seus braços,uma PRIMAVERA rosácea, aconchegava o seu farto tom pastel.
O velho e cansado CARVALHO, enfim adquirira o colorido tão sonhado que transforma a vida.
( Cena verídica de hoje, na cidade cinza)