Horácio esperara o carro de Martha desaparecer após dobrar a esquina, e então tocou a campainha da casa amarela. Quando a misteriosa ruiva abriu a porta, deixando a passagem livre para ele entrar, o detetive teve certeza de que era esperado. Eva tirou os sapatos esparramando-se no sofá da sala enquanto Horácio acomodava-se numa poltrona de couro.
— Eu sabia que você não era um péssimo detetive como Martha adora repetir.
Horácio fingiu não se importar com a ironia da mulher:
— Fiz a minha parte. E, agora, que tal você abrir o bico?
Eva sorriu. A história — em sua terceira versão — envolvia um caso mal resolvido entre ela e Martha. Tudo começara num romance a três: um homem e as duas mulheres. Após alguns meses, ambas sentiram vontade de estar juntas, sem a presença do sujeito. Porém a relação não durou muito tempo. Para Martha tudo não passara de mais uma aventura como tantas outras em sua vida.
Ciente de que a ex-esposa de Horácio gostava de correr riscos, Eva tentou uma reaproximação propondo uma aposta para deixar as coisas mais excitantes entre elas. O jogo envolveria o detetive. Martha que costumava se divertir fazendo piadas a respeito do homem com quem vivera por três anos, arriscara seu palpite: Horácio nunca descobriria nada, ainda que tivesse uma pista. Eva colocou suas fichas na outra possibilidade. E, naquela noite, ao receber o detetive em sua casa, ela viu sua aposta ganhar o jogo.
A mulher levantou-se do sofá e enquanto caminhava displicente em direção à cozinha, disse:
— Bebe uma taça de vinho comigo?
NOTA DA AUTORA: Para melhor entendimento da trama, sugiro a leitura dos contos desta série: "O Primeiro Caso", "O Caso do Bar", "A Sombra de Eva", "A Ex-Mulher", "O Detetive", "A Secretária", "Virando o Jogo", "Duas Mulheres", "Detetive por uma Noite" e "Investigação Particular".