Conforme me pediu, aqui conto o que, ontem, você me contou...porque os milagres estão na vida, e precisam ser recontados...
Pequenino e recém chegado à Natureza, ele vinha extasiado pela sua primeira primavera, já sobre os campos reflorescidos ao derredor da cidade cinza.
Coitadinho, ainda não entendia de obstáculos, fascinado que estava com a liberdade inata da vida, cujo cenário panorâmico lhe apontava para a imensidão aberta dos céus...
Também não sabia o quão penoso lhe seriam os primeiros aprendizados longe do aconchego da mãe.
Vinha sorrindo como criança, encantado com a flores, quando de repente...BUMMM!!-topou de frente com o obstáculo transparente da janela entreaberta dum escritório, e pela fresta tombou na soleira da vidraça,resfriado pelo ar condicionado daquele ambiente inóspito.
Ainda batia fracamennte as asinhas, e de olhinhos revirados, sentia-se o seu coração palpitando sob o peito ofegante e trêmulo de frio...
Parecia estar morrendo...
Então, alguém o segurou delicadamente, e com as mãos em conchas,aqueceu-lhe o corpinho sôfrego, devolvendo-o ao parapeito ensolarado, do lado de fora da janela.E depois me completou:
-Nunca acreditei que um dia, pudesse ter nas mãos algo tão ágil!
Num milagre de segundos, o pequeno ser moribundo mirou o infinito, acionou o acelelador de asas, e com enorme força propulsora, daquelas que comandam a vida,partiu feliz, de olhos abertos, para o destino digno dos beija-flores azuis...
(Conto verídico)