O charme do senhor P deixara Judite sonhando acordada em sua mesa, após anunciá-lo. Poucas vezes um homem tão elegante entrara no escritório de Horácio. Casado com a filha de um grande empresário do ramo de hotéis, o novo cliente do detetive contou que sua mulher o traía. Ele próprio havia visto.
Apesar de óbvia, a pergunta de Horácio era inevitável:
— Então como posso ajudá-lo?
— Eu quero mais provas.
Nos primeiros dias em que o detetive seguiu a esposa do senhor P, não encontrou nenhuma conduta suspeita. No final da segunda semana, aquela mulher parecia agitada. Quando Horácio preparava-se para encerrar a investigação, ele finalmente viu a esposa do senhor P encontrar outro homem em um bar.
No balcão, Horácio pediu uma dose de uísque, enquanto observava o casal numa mesa, ao fundo, beber em silêncio. A mulher começou a chorar. E o homem tentava consolá-la. O detetive não conseguia ouvir uma palavra sequer, mas percebeu que se tratava de uma despedida. A tristeza no semblante dos dois era evidente. Nas três semanas seguintes não houve outro contato da mulher do senhor P com o sujeito do bar.
Quando a investigação foi concluída, Horácio mostrou para seu cliente as fotos que registraram o último encontro da esposa com o suposto amante. O detetive não costumava emitir opinião, mas, naquele caso, sentiu que deveria falar:
— Seja lá o que houve entre os dois, acabou.
O senhor P observava a fotografia de sua mulher sendo beijada por outro homem. Colocou-a no bolso interno do casaco, e sorriu:
— Para mim, senhor Horácio, está apenas começando.