Julia embarcara em mais uma sessão de lágrimas, à procura de uma resposta que explicasse a enciclopédia de horrores em que havia se transformado sua vida amorosa, quando a melhor amiga garantiu:
— Você não vai se arrepender. Essa vidente sabe tudo!
Dois dias depois, lá estava ela diante da mulher e sua bola de cristal. Julia estranhou que o tal objeto estivesse de fato ali, mas sua vida andava tão esquisita que uma bola de cristal a mais ou a menos não faria diferença.
O figurino da vidente lembrava uma cigana de um filme antigo. Dona Carmencita transmitia uma espécie de segurança aos desafortunados que a consultavam. Antes mesmo de abrir a boca, Julia sentiu uma ponta de vergonha por estar tão frágil. Não. Desesperada era a palavra. Tarde demais para arrependimentos. Respirou fundo, e assumiu com todas as letras o que desejava:
— Preciso de uma luz.
A vidente olhou para Julia sem esboçar qualquer reação. E num gesto ágil deslizou os dedos sobre a bola de cristal. Uma, duas, três vezes. Dona Carmencita franziu as sobrancelhas:
— Não vejo nada.
— Mas a senhora não é vidente?
— Pra você ver. A coisa tá muito complicada pro seu lado.
— Isso eu já sei.
— Ter consciência é o primeiro passo.
— E o segundo?
— Vamos torcer pra que exista algum. Pague na saída, querida.