sem título

Publicado por: Francisco Coimbra
Data: 16/08/2007

Créditos

texto e voz: FC

sem título

Percentualmente o número de auditores é muito superior ao número de leitores, não fora o facto de os leitores serem também os auditores... Com esta frase pouco interessante (espero venha a ter pouco interesse...), começo este texto para contar mais um conto, acrescentar um conto ao anterior.

Quando a Milú me arrastou para o lanche fui, acabei por me divertir, mas voltei para casa. Quando cheguei disse à Mim que íamos ter uma visita para dormir, a Milú. Olhou para mim com aquele olhar de óculos de leitura que tinha na cara a dar-lhe um ar intelectual de boazona que faz com que sonhe com ela acordado quando penso nela e perguntou: - Então hoje vais dormir no quarto de hóspedes? Respondi: - Ó querida, nem sei se a Milú trás a Fifi, tens cada uma? E ri alto, mas ela já não me estava a ligar nenhuma, mergulhara de novo na leitura. Conclusão, estava a borrifar-se para a Milú, para a Fifi; naquele momento, de certeza, sobrava de mim...

Fiz o que costumo fazer e nos dá tão bom ambiente, sentei-me na sala e fiquei também a ler, depois de escolher um jazz com suave swing, apenas instrumental, com um baterista que faz um solo a prolongar-se por minutos, uma "jam session". Estávamos nisto tocou o telefone da sala, a Mim olha para mim interrogativamente, eu atendo o telefone. Respondo falando para o bocal: - Muito bem, vou conhecer o teu pai e jantar, mas temos de vir cedo cá para casa, quero que aqui façamos o serão. Pois claro, que Sim, que aquilo era porque tinha que ser e que a Mim se preparasse para ser beijada nas bochechas. Eu transmiti a mensagem assim mesmo, dizendo que a Milú me viria buscar daqui a um bocado.

Meu dito meu feito. A Milú apareceu e fomos, se alguma vez chagar (chegar) a netos e eles me obrigarem, talvez um dia conte a história do jantar. Agora o serão com a boa da Mim a participar, partilhando desta aventura, é que se presta para eu acabar o meu conto.

Imaginem o serão na sala onde estou com a Mim, Sim? Para concluir vou ao meu caderno buscar três apontamentos, dois que li e um que não era para contar a ninguém. Vou escarrapachá-los por ordem, sem qualquer narrativa (ponto e vírgula); até vou dar números, de 1 a 3, um, dois, três:

1

crentes e não crentes

A grande semelhança entre crentes e descrentes de Deus, é que nem uns nem outros sabem ao certo o que imaginam, mesmo sendo mais certo imaginarem os crentes que os não crentes, logo, creio: os não crentes beneficiam da imaginação dos crentes!

2

o sono e o sonho

Dormia na praia, Deus resolveu plantar uma árvore para o proteger durante o sono. Quando acordou, a sombra preservava-o do Sol, o dia continuava à beira mar. Tivera um sonho, bastava imaginar Deus e Ele viria fazer-Lhe companhia. Havia sido ele a plantar a árvore, durante o sonho substituíra Deus. Bastaria agora encontrarem-se, ele e Ele, a sua imaginação no sonho, com a realidade aqui. A imaginação continuava frondosa, a dar a sua s_o(m)bra! (s, traço sublinhando, obra!, tudo junto: ... a sua - sombra!)

3

(sem título)

Cada um gosta daquilo que gosta, havendo aqueles que parecem não gostar de nada. Estes constituem uma classe à parte, fazendo da negação uma arte. Compreender essa arte foi o que me levou a tentar conhecer melhor um amigo que não se dava com ninguém e tinha uma irritação profunda com a sua consciência do mundo, tirando isto, não conseguia ser uma pessoa normal. Isolava-se, procurava nos outros apenas a possibilidade de ter uma companhia com quem confirmasse a incapacidade humana para conhecer o próximo, quando este está suficientemente próximo para a sua intimidade se tornar digna de claustrofobia. Como eu lhe dava motivos para se sentir mal, fazia questão de conversar comigo sempre que podia. Isso acontecia discretamente, sem que para isso, um e outro, tivéssemos de mostrar qualquer interesse pela companhia... do outro.

Imaginei este conto... dedicado ao meu amigo.

Um dia convidei-o para almoçar, fui eu que fiz o almoço. A rainha da festa foi a Mim. O meu amigo, a quem não disse ter sido eu a cozinhar, disse maravilhas do almoço. Espero tenham gostado, uma boa hipótese será terem tido um bom almoço, nem que tenha sido o pequeno-almoço :)

R

{O seu comentário impressionou-me! Permita-me que lhe dedique o conto que hoje resolvi escrever, como que dando uma continuação ao anterior. No final do conto, digo ter imaginado dedicá-lo a um personagem importado para a história. Na verdade, espero goste e lhe importe a si, sinta que o mesmo lhe é dedicado.}

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 16/08/2007
Reeditado em 16/08/2007
Código do texto: T609624