ESTRANHOS NA NOITE
Caminhei pela rua deserta, em mais uma noite abafada. Ele me esperava na esquina. Não sentia medo, mas uma excitação marcava minha pele num longo arrepio. Pensar no perigo tornava a respiração curta. A verdade é que fui invadida por uma alegria inesperada e fora de lugar: minha sensação de vazio havia sido diluída por um estranho. Até aquele exato instante — além do anúncio no jornal e o brevíssimo contato por telefone — não sabia quem era o homem que me aguardava ali. Ele estava encostado no muro de uma casa abandonada. Quando me aproximei, esmagou a ponta do cigarro no chão. Logo em seguida, acendeu outro. A fumaça saía de sua boca em golfadas rápidas. E então ele disse:
— Você não serve. Não tem medo nos olhos. Não me interessa.
Seu sadismo era um tiro certeiro na única fantasia que ainda restava. Sentei-me na calçada sem vontade de chorar. E o mundo, outra vez, parecia oco.
(*) ESTE CONTO É RESULTADO DE
UM EXERCÍCIO PROPOSTO EM OFICINA LITERÁRIA