Gregório era um jovem muito artístico e sensível. "Era", mesmo: uma década atrás.
O músico, que vivia sem grana (quase um pleonasmo), conheceu a sensual Anna nesse distante passado — era com dois "enes", mesmo. Moça escritora e poetisa: que felicidade para Gregório! Tinham tanto em comum! O rapaz queria mais, muito mais dela em sua vida.
Só que, em verdade, eles não compartilhavam tanto, assim. Se Gregório estava absolutamente apaixonado — especialmente pelo fato de ambos serem artistas —, Anna pensava o contrário. Após semanas tentando aproximar-se mais da musa (quase um oximoro), o outrora iludido músico — agora, desiludido — finalmente caiu em si. Em um café, sem mais paciência, elevou o timbre e perguntou à escritora:
— Ei... Tem espaço para mais um artista aí, ou você é daquelas que procuram engravatados endinheirados para "equilibrar" suas loucuras artísticas tipicamente pouco lucrativas?
Anna apenas sorriu enigmaticamente, olhou para o relógio, levantou-se e foi embora.
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