CÁLICE DO HORROR, parte final
Não podia compreender o som. Se aproximava mais e mais, todavia, aquilo estava longe de ser um hospital, aliás, um estágio a frente... A matilha se alvoroçava a ponto ensurdecedor e logo se podia sentir também um frio inexplicável para aquela época do ano. Mantinha-se calado.
Até que as poucos começaram a se aproximar lentamente vultos e pessoas em trajes de gala, pelo portão principal. A cena era tétrica, mais parecia um cortejo, mas ao contrário, todos brindavam em pomposos cálices de vinho e espumantes, exibiam calçados muito lustrados que temerosamente refletiam uma lua ainda teimosa em persistir. Era uma grande festa.
Constrangido, o porteiro passa a vigiar por detrás de uma tumba com suntuosa cruz sobre a lápide quando de repente... o som das taças parecia vir também do fundo do túmulo... vozes também já ecoavam e pareciam familiares, a mais de duas décadas não ouvia a voz de sua mãe e culminou em um ímpeto de ilusão, demência, sensação de ganho e perda simultâneos, emoção e medo... só assim despertou para a realidade e saiu correndo. Pobre senhor “L”, mal se virou e a figura do enorme cajado o avassalou de uma só vez, aquela dama de negro, o escolhido era ele. Um único golpe na jugular, projetando esguichos horrendos e rubros em várias direções, da seiva do que foi a pouco uma vida... “L” expira com olhos fitos na morte, não houve tempo para nada...
A festa seguia ainda mais voluptuosa, a medida que o corpo era coberto e envolto em seda, cetim e serpentinas, não antes de ser banhado na mais fina bebida que impunham, mesmo que em sua sacrossanta memória tardia...não se sabia de onde surgiam... sabia-se que foi alcoólatra em vida... A sirene então distanciou-se... foi uma recepção calorosa, inegavelmente. Rápido, sem sofrimento, apesar de brutal. Será o destino? A calmaria já reinava naquele lugar...