NOITE VERMELHA
Leia a carta. E antes de supor que eu esteja louco, acredite neste velho amigo que diz apenas a verdade. Ainda não sei como explicar os acontecimentos da semana passada. Desde a madrugada da última quarta-feira, mal consigo pregar os olhos. Naquela noite, depois do jantar, como de costume, bebi um cálice de vinho do Porto. E iniciei mais um capítulo do meu livro. Por detestar as modernas máquinas de escrever, usei a caneta tinteiro que era de meu pai. Logo na primeira frase — por incrível que pareça, escrevia sobre as facadas que o assassino desferira em sua vítima —, a tinta azul se transformou em vermelha. Racional, como sempre fui, verifiquei o tinteiro, seguro de que encontraria tinta vermelha dentro dele, mas a cor era azul. Em seguida, quebrei a caneta num movimento tão brusco que feri minha mão. O sangue se misturou à tinta. E só então percebi que não havia tinta alguma. Era apenas sangue que jorrava da minha antiga caneta.