As brumas do largo da ordem
O reluzente reflexo vindo das pedras da rua na madrugada garoenta, deixavam a mostra naquele velho muro pichado, a sombra... Uma disforme sombra ladeada de algo em forma de um grande embrulho, e então, deslocou-se a sombra por mais 20 metros... E desapareceu ao lado da igreja entre as árvores.
Duas horas depois a mesma sombra ressurgiu, e esgueirando-se, arrastou-se até a esquina, olhando para todos os lados, arfando numa respiração custosa foi até a esquina e depois de um olhar para trás, dobrou-a e desapareceu...
Durante os dias transeuntes passavam por cima daquele sinistro lugar sem nada perceber, um lugar normal, que nas profundezas do subsolo escondia o segredo de um trapo humano, que reservava forças, unicamente para cumprir sua missão, segundo ele, matar e matar.
O largo da ordem é um lugar publico, com bares, um amplo espaço para passeios, uma praça e a igreja.
Exatamente ali na igreja, ou sob ela é que o antigo assassino trancafiava os seus segredos.
Era uma sombra que rodeava as ladeiras a procura de “peças” como ele dizia para a sua coleção.
Durante o dia, dormia entre o verde de um parque urbano, comia restos das lixeiras, e a noite perambulava nos seus delírios em busca de “peças”, encontradas geralmente entre a mendicância e as guardava nos subterrâneos da igreja.
Por algum motivo, esta noite o abutre, ou sua sombra arrastava-se com mais dificuldade, tingindo o chão com uma longa mancha de sangue...
___Malditos... Querem o meu sangue vermes...? Pois vão ter o mesmo fim dos desgraçados do subterrâneo...
Entrou entre as folhagens, afastou uma enorme pedra da parede e deslizou na escadaria tétrica, que na sombra da noite tinha um ar sepulcral.
Ao começar descer, sentiu um forte cheiro, mas não era de carne humana em decomposição, mas algo entre o enxofre e o gás metano...
Esbugalhou os olhos, firmou-os na direção de um ínfimo raio de luz, e constatou que uma pequena bruma esvoaçante circulava naquelas galerias.
Levemente estonteantes, é verdade, mas nada que poderia fazer alguém perder a consciência, o carniceiro respirou fundo e continuou arrastando-se em direção a sua coleção magnífica...
A cada vez que adentrava àquele lugar seus olhos brilhavam...
Ouvia em seu íntimo a Marcha Fúnebre de Chopin, e delirava de prazer.
____AAAAHHHH! Que prazer imenso, é como voar...
A infindável galeria dobrava-se em duas e pela direita enveredou a besta humana, rastejou mais uns 10 metros e parou diante de uma porta...
Retirou uma velha chave enferrujada do bolso, com dificuldade a colocou no buraco da fechadura...
Sentiu que ali o cheiro daquele estranho gás era mais forte, e lentamente girou a chave...
Abriu a porta, e o escuro silencioso não o deixou ver o massivo ataque daquelas criaturas, que caíram sobre ele com um voraz desejo de vingança...
Primeiro mordidas assassinas, depois socos, extração dos olhos com a besta ainda viva e por ultimo, estrangulamento e esquartejamento sob um banho de sangue.
De alguma maneira, aqueles que eram levados para o subterrâneo não eram totalmente mortos, e aquele gás, milagrosamente os ressuscitava...
No silencio da madrugada sobre o brilho das calçadas carregadas de sereno, a partir do meio das folhas, ao redor da igreja, trapos humanos, retornavam a sombrear os muros, para quem sabe fazer parte de outra coleção... De corpos.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Malgaxe