E Catelina chegou para sua primeira aula de violino. De certo a jovem estava um tanto aterrorizada, pois o mais perto que chegara de um violino foi imaginando-o.
“O que há de tão diferente neste instrumento, que me põe a tremer deste jeito?”, pensava a moça. De diferente, nada. Todo ele, para aquela leiga alma, era a diferença. Um completo estranho, que Catelina nunca imaginou poder dedilhar notas musicais por seus próprios dedos. “Cristo, o que estou fazendo aqui?”. Respirou fundo e foi em frente.
Cristo certamente não quis escutar a jovem em sua primeira tentativa com o violino, tão imponente e solitário que é! Catelina fez o coitado chorar... que choro estridente e dolorido, sofrido e insuportável. E se fosse apenas o violino a chorar, agradeceriam os céus!! A professora e as demais alunas também choraram, se não externando-o, é mais do certo que internamente jorraram lágrimas de desespero.
“Basta. Não quero mais isso, nunca mais!” – olhou assustada Catelina para sua professora. Sufocando a raiva, conseguiu expressar-se:
- Não nasci para o violino, ou ele não nasceu para mim. Seja lá como for, há incompatibilidade de gênios aqui.
- Senhorita, não pense assim, o violino deve ser manuseado com carinho e tocado com a sensibilidade do coração. Suavidade, suavidade e suavidade, isso faz ele feliz. – disse a professora.
- Oh, suavidade... penso que somos mesmo incompatíveis. – Catelina achava que suavidade não era seu ponto forte.
- Ah, toda moça há de ter suavidade... vamos, é fácil, você consegue.
Uma, duas, três, quatro... doze. Doze tentativas até Catelina conseguir uma nota que fizesse aquilo parecer com um violino.
- Bem, você pode tentar o piano... ou a flauta, quem sabe. – desanimou a professora, agora parecendo acreditar que a incompatibilidade de gênios podia ser possível entre uma jovem garota e um violino.
Catelina parou. Olhou fixamente para aquele violino em suas mãos. Pausa.
Silêncio.
“Nunca. Jamais. Como pode ser tão petulante, seu pedaço de madeira com cordas!” – Catelina discutiu com o violino em sua mente, se bem que sua expressão externava o que pensava a todos, não há dúvida.
- Ora o que! É o violino que vou aprender e garanto, professora, vou tocá-lo tão bem que vai me querer em sua orquestra! – desafiada, Catelina não deixou por derrotar-se por um petulante violino.
- Muito bem, vamos lá. – a professora abriu um sorriso em respeito à atitude da jovem.
E que seja Catelina De Manjón, futura violinista da escola Le Blanc!!
Catelina De Manjón nasceu em Andaluzia, Espanha, no século XVIII, e após seu professor Alberto perceber os talentos da jovem, convenceu seu pai em mandá-la para Marselha, na França, estudar na escola Le Blanc, onde permaneceu por três anos, morando com sua tia, Désirre Neville, irmã de sua mãe.
Ali, Catelina não fora estudar apenas arte, música e filosofia. Fora descobrir seu verdadeiro dom, e encontrar seu destino com a Grande Mãe.
Catelina De Manjón é A Sacerdotisa da Luz, e este conto não faz parte da obra, são episódios de uma história que vai além da imaginação de quem lê.
“Aventuras e Descobertas de Catelina De Manjón”, são pequenos contos do cotidiano desta personagem, criados por Valéria Nagy.
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