O homem ao seu lado na poltrona do avião distraia-se com o jornal e ela olhava as nuvens e lágrimas insistiam em cair. Estava feito! Todas as suspeitas confirmadas... Uma história que não havia como contar algum dia, de tão louca, de tão surreal. Mas era preciso ter certeza. E teve... Ele estava lá, ele existia de verdade, mas ele não era ele.
Ana, uma jornalista ágil, reconhecida em seu jornal. Beto, um “frela”, um homem fascinante, de quem ninguém sabia NADA, mas que exercia um fascínio absoluto com suas matérias bem montadas e até mesmo com seu mistério. Como tinha que ser, aproximaram-se. Uma relação forte e muda. Nem o nome real dele, ela sabia...
No outro lado da história, Leda a jornalista atuante, seca. Duas belas mulheres. Dois opostos absolutos.
Mas nada, nenhum segredo persiste, quando no meio há sentimentos, paixões.
Alguns acontecimentos foram mostrando a Ana que havia algo errado. Amigos a alertavam, seu rendimento no jornal e fora dele caia. Leda, armou uma bateria de ironias que logo mostrou ser Ana, a outra e Beto, o frela passou a ser pivô de uma loucura. Eram coincidências de horários, era o mesmo vocabulário rebuscado, apesar da doçura de Beto e da secura de Leda.
Ana largou tudo e se atirou na investigação. Tinha algo errado. Beto, meio acuado confessou ter tido no passado um romance mal resolvido com Leda, daí sua ira, sua indignação, sua amargura. Isso, por algum tempo convenceu. Só por algum tempo. Leda não dava trégua com suas ironias, com matérias cheias de entrelinhas que faziam de Ana um nada. Alguém levantou uma hipótese, a princípio absurda. Beto não existiria, seria um outro lado de Leda, que ela própria desconhecia. E Ana pesquisando.
Como se adivinhasse, Leda passou a ser direta, contou tudo a Ana, deu nome, endereço, até um pedaço de fotografia do suposto Beto. Ana, contudo não lhe disse nada. Ele insistia em sua privacidade e ela respeitava. Mas tinha algo errado. Houve mais alguns episódios no meio, mas a história ficaria enorme. Ana resolveu. Rompeu com Beto, largou tudo, pegou um avião, viajou horas, criou coragem. Estava ali, diante dele. Eram apaixonados. Ele não sabia quem era ela. Ele era o sujeito da fotografia, etc, mas não era Beto. Pior, contou-lhe que conhecera Leda, tiveram um caso, mas ele tinha família, etc. e não passou de um caso. Beto era mesmo Leda... Beto nunca existiu... Ana e Joaquim despediram-se, ele a deixou no aeroporto.
Naquele avião ela recordava e apenas lamentava. Já estava tudo decidido. O homem ao seu lado, agora cochilava.
Deixara o carro no estacionamento. Só havia uma bagagem de mão. Ligou a música preferida de “Beto”, não tomou o caminho de casa, pegou o trevo da BR. Dirigia e não pensava, apenas ia. 200 km depois, trevo, entrada. Estrada de chão, pensamentos, certezas, estava feito. Mal ouviu o grito do guarda quando passou a guarita em direção ao Canyon maior. Desligou, saltou, deixou a porta aberta, caminhou, caminhou sem olhar pra trás, a música repetia, o guarda se desesperava tentando alcançá-la...
Ana não disse palavra... lentamente caminhou para o precipício... Estava feito...