Eles chegaram, com suas armas, exorbitando poder.
Eles chegaram, vieram em tropa.
Eles chegaram, são os gigantes e me vão esmagar.
Eles chegaram, ai de mim! Tiraram-me as vestes, as máscaras e me colocaram diante de um enorme espelho para que eu me visse distorcida imagem do que dantes fui.
Não usaram argumento algum para me convencer, sequer se atreveram a me dirigir a palavra. Pra quê? Eu não os ouviria mesmo diante das circunstâncias, tanto fazia que fossem mudos. E, apesar de tudo, somente uma coisa me intrigava: Por que me incomodava tanto o maldito silêncio?
Já se passaram muitos dias desde aquele e o mesmo vazio ainda me ronda. Minha preciosa e sã mente divaga, voa, mas quando tento tirar meus pés do chão percebo que pesadas correntes seguram-me os pés, cerceando-me a liberdade. Às vezes ouço ao longe uma voz gritar meu nome, isso me angustia. Por que ela não cala?! Estranhamente não me perturba o medo, somente o frio é meu tormento. Aqui é tão frio! Frio como a saudade ou o esquecimento.
Pouco ainda me resta do meu passado, somente alguns resquícios de lembranças resistem ao isolamento. Gostaria de saber quais discórdias e inverdades me trouxeram a este lugar. Às vezes é tão escuro que mal consigo distinguir as sombras que passam de um lado para o outro por debaixo da porta. Às vezes elas chegam bem perto e então... A voz... Ordena que eu esperte. Logo eu, tão lúcido, tão vivo... Não entendo, não entendo mais nada.
Eu bem que gostaria de despertar desse sonho mal e rir de mim mesmo e minhas considerações inúteis, mas não posso, e por agora são tudo o que tenho, são tudo o que me faz resistir ou... Existir.